Bolsonaro meteu o pé e foi simbora
Por Emanoel Barreto
Após live em rede social, quando afinal admitiu a derrota, Bolsonaro meteu o pé e foi simbora. Na live via-se perfeitamente a imagem do derrotado que cambaleava num discurso troncho, com argumentações e defensivas meio que a esmo. Chegou mesmo a indagar a alguém como estava repercussão numérica do, digamos, pronunciamento. Não deu para perceber qual foi a resposta.
Veio às
lágrimas, tentou verter-se à condição de mártir, já que não topou assumir a
situação de herói disparatado e líder dos perigosos e grotescos grupos de
alucinados que, postados às portas dos quartéis, vêm implorando por um golpe de
Estado, para em seu lugar encravar uma ditadura.
A situação
de busca do desequilíbrio institucional lembra palavras do ditador Humberto
de Alencar Castello Branco quando dizia, então referindo às elites que
procuravam os militares visando a derrubada do presidente João Goulart: “"Eu
os identifico a todos. E são muitos deles, os mesmos que, desde 1930, como
vivandeiras alvoroçadas, vêm aos bivaques bolir (sic) com os granadeiros e provocar
extravagâncias do Poder Militar."
As vivandeiras
de agora também se aproximam dos bivaques e querem da mesma forma bolir
com os granadeiros para que perpetrem “extravagâncias”. São também das elites e
se valem da desordem e financiam magotes de tipos radicalizados que se expõem ao
sol e chuva, muitos deles amalucados que apelam até mesmo pelo socorro de seres
extraterrestres, num espetáculo risível e lamentável, como foi estampado nas
redes sociais.
Afinal,
esgotado, Bolsonaro meteu o pé e foi simbora. Seu discurso de despedida, por
ser patético, certamente não teve potência suficiente para provocar comoção coletiva, fenômeno
somente obtido pelos grandes discursos – altaneiros, altissonantes, convocatórios;
não foi um brado, que é vigoroso, resumiu-se a palavras que escorriam, mirradas,
para o ralo da História.
Por ser patético,
sua fala mais inspiraria piedade e compaixão – pior: decepção, ao invés dos
berros de “mi-tô!, mi-tô!, mi-tô!”.
Bolsonaro
foi, sim, patético, e o patético desperta a vergonha alheia, tal a forma como
se apresenta: alguém que decaiu das alturas de sua impiedade – altura de onde
se sentia invencível e podia zombar, por exemplo, da morte de milhares pela
covid.
Em sua
live tornou-se alguém a esmolar algum tipo de apoio e garantia de que seu
seguidor continuará a nele acreditar. Depois disso empreendeu fuga; Flórida,
que beleza. Afinal, precisa retemperar forças e ganhar um bronzeado, pois
atualmente está macambúzio, sorumbático, meditabundo.
Do ponto
de vista da comunicação certamente não obteve o resultado pretendido. Que tristeza,
não? Vejamos agora o desenrolar da História. Qual o rumo que tomarão seus
apoiadores. Amanhã, na posse de Lula, esperemos que seja mantida a normalidade institucional:
todavia, a leitura dos jornais, a visão dos noticiários de TV e rádio, a veloz
comunicação das redes sociais sugere que há perigo na esquina. Mas é preciso
ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre, já dizia Milton
Nascimento, para acabar com a escuridão. Lá vem o sol, lá vem o sol, lá vem o
sol...
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