sábado, 31 de dezembro de 2022

 Bolsonaro meteu o pé e foi simbora

Por Emanoel Barreto

Após live em rede social, quando afinal admitiu a derrota, Bolsonaro meteu o pé e foi simbora. Na live via-se perfeitamente a imagem do derrotado que cambaleava num discurso troncho, com argumentações e defensivas meio que a esmo. Chegou mesmo a indagar a alguém como estava repercussão numérica do, digamos, pronunciamento. Não deu para perceber qual foi a resposta.

Veio às lágrimas, tentou verter-se à condição de mártir, já que não topou assumir a situação de herói disparatado e líder dos perigosos e grotescos grupos de alucinados que, postados às portas dos quartéis, vêm implorando por um golpe de Estado, para em seu lugar encravar uma ditadura.

A situação de busca do desequilíbrio institucional lembra palavras do ditador Humberto de Alencar Castello Branco quando dizia, então referindo às elites que procuravam os militares visando a derrubada do presidente João Goulart: “"Eu os identifico a todos. E são muitos deles, os mesmos que, desde 1930, como vivandeiras alvoroçadas, vêm aos bivaques bolir (sic) com os granadeiros e provocar extravagâncias do Poder Militar."

As vivandeiras de agora também se aproximam dos bivaques e querem da mesma forma bolir com os granadeiros para que perpetrem “extravagâncias”. São também das elites e se valem da desordem e financiam magotes de tipos radicalizados que se expõem ao sol e chuva, muitos deles amalucados que apelam até mesmo pelo socorro de seres extraterrestres, num espetáculo risível e lamentável, como foi estampado nas redes sociais.

Afinal, esgotado, Bolsonaro meteu o pé e foi simbora. Seu discurso de despedida, por ser patético, certamente não teve potência suficiente para provocar comoção coletiva, fenômeno somente obtido pelos grandes discursos – altaneiros, altissonantes, convocatórios; não foi um brado, que é vigoroso, resumiu-se a palavras que escorriam, mirradas, para o ralo da História.

Por ser patético, sua fala mais inspiraria piedade e compaixão – pior: decepção, ao invés dos berros de “mi-tô!, mi-tô!, mi-tô!”.

Bolsonaro foi, sim, patético, e o patético desperta a vergonha alheia, tal a forma como se apresenta: alguém que decaiu das alturas de sua impiedade – altura de onde se sentia invencível e podia zombar, por exemplo, da morte de milhares pela covid.

Em sua live tornou-se alguém a esmolar algum tipo de apoio e garantia de que seu seguidor continuará a nele acreditar. Depois disso empreendeu fuga; Flórida, que beleza. Afinal, precisa retemperar forças e ganhar um bronzeado, pois atualmente está macambúzio, sorumbático, meditabundo.

Do ponto de vista da comunicação certamente não obteve o resultado pretendido. Que tristeza, não? Vejamos agora o desenrolar da História. Qual o rumo que tomarão seus apoiadores. Amanhã, na posse de Lula, esperemos que seja mantida a normalidade institucional: todavia, a leitura dos jornais, a visão dos noticiários de TV e rádio, a veloz comunicação das redes sociais sugere que há perigo na esquina. Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre, já dizia Milton Nascimento, para acabar com a escuridão. Lá vem o sol, lá vem o sol, lá vem o sol...

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