quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

 A História não é um poema que se escreve em linha reta

  Por Emanoel Barreto

 

Os atos de terrorismo perpetrados em Brasília são indício de como será difícil o retorno do Brasil à normalidade democrática, que começou a ser solapada no governo Dilma, vicejou com Temer e sinalizou à direita e extrema direita que o terreno ficara plano e fácil para sua ascensão. E deu no que deu.

Agora, quando veio a derrota de Bolsonaro, as forças da reação buscam reverter o quadro, mesmo sabendo que, mantidas as condições atuais, com a Justiça atuante e firme, e os militares se portando unicamente como tais, a posse de Lula é apenas uma questão de tempo – e está bem próxima.

Não se pode esquecer, todavia, que a História não é um poema que se escreve em linha reta. Os passos da construção da normalidade democrática precisam ser dados em terreno firme e seu caminho se faz no caminhar. É difícil essa caminhada, é exigente esse caminhar.

A prova está na ação de hoje da Polícia Federal, que cumpre 81 mandados de busca e apreensão contra indivíduos flagrados na condição de líderes e provedores dos atos de desordem e terrorismo, culminando com o recente ataque à sede da Polícia Federal em Brasília.

O que se percebe é que há organização e organicidade entre os participantes. Todos são convictos de que suas atitudes são manifestação da livre expressão de pensamento, esquecendo que tal manifestação não precisa de armas para se fazer ouvir – a PF apreendeu uma submetralhadora, rifles com luneta e um fuzil.

Diante do quadro instalado, será preciso saber com a maior exatidão possível como se dá a organização do sistema antidemocrático, seus projetos e planos. A reconquista da normalidade democrática somente se dará em ambiente complexo, que reúna, por exemplo, a convergência de pensamentos progressistas em frente ampla, crescimento econômico, esmaecimento das hordas de arruaceiros e sensação geral de que, verazmente, o país está no caminho certo.

O processo, como enfatizado, não se dará em linha reta, com um passo implicando o passo seguinte; ações e reações deverão acontecer, exigindo decisão, planejamento e atitudes desassombradas, sempre e quando houver ameaça à manutenção de um estado de coisas pacífico e distanciado de extremismos.

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