segunda-feira, 22 de novembro de 2021

 

 A história do homem suspeito de ser sequestrado

Por Emanoel Barreto


Conto aqui caso gravíssimo que aconteceu no território da minha imaginação brasileira: um homem foi suspeito de ter sido sequestrado e passou horrores. 

Foi o seguinte: a manchete do principal jornal da cidade anunciou que um grande comerciante estava sob suspeita de ter sido sequestrado. Imediatamente as polícias civil, militar e federal entraram em estado de alerta porque quem é suspeito é suspeito de algo, ou seja: o verbo suspeitar sugere que o sujeito alvo da suspeição é praticante de crime. Se não fosse assim não seria um suspeito.
Ora, o homem, que tinha sido sequestrado mesmo, estava padecendo em seu cativeiro. Enquanto isso, as polícias ativavam seus serviços de inteligência para que fosse capturado. Quando o cativeiro foi estourado pela polícia civil lá estava o pobre: acorrentado e amordaçado. Os bandidos haviam fugido minutos antes. 
Então, estando sob cárcere privado, ou seja, confirmado o sequestro, havia ali prova material de que o homem era realmente culpado de ter sido sequestrado. Caso contrário não estaria ali em local típico de criminosos.
Quando os agentes saíam com o agora bandido, que alegava aos brados que não era bandido, mas empresário, portanto pessoa ordeira e, mais que isso, vítima, chegaram os policiais militares.
Imediatamente deram voz de prisão a todos. E de nada adiantou os policiais civis afirmar que eram agentes da lei: os soldados disseram que se estavam em companhia de criminoso ocorria ali a formação de bando ou quadrilha e assim policiais civis e empresário foram postos em camburões.
Quando já seguiam para a delegacia, chega a polícia federal que por sua vez também prende a todos sob a mesma alegação: formação de quadrilha, crime agravado por serem todos homens da lei, conluiados com homem suspeito de ter sido sequestrado. 
A polícia federal então pensou em levar todo o já enorme grupo à prisão quando a Força Nacional de Segurança ia passando e ao ver aquele amontoado capturou a todos imediatamente.
Estabeleceu-se então grande tumulto e começou um tiroteio. Alguém chamou as Forças Armadas, pois pensou-se que ali havia algum tipo de levante, revolta, até mesmo revolução, luta armada. 
Então todo mundo começou a prender todo mundo e, ao final das contas, todo o aparelho armado do país estava envolvido e todos prenderam a todos, incluindo a população, que em meio a gritos de "o povo unido jamais será vencido “configurou situação de ato subversivo e todo subversivo deve ser tirado de circulação. 

Em meio à sedição agora instalada coube a um bandido, chefe da pior quadrilha do país, ter uma ideia: sequestrar alguém para pedir resgate. Pior: a quadrilha sequestrou todo mundo para garantir um bom lucro. Mas como todos estavam sequestrados não havia ninguém a quem cobrar o tal resgate.
 Assim a quadrilha denunciou à Justiça que tinha uma grande fortuna a receber, mas as famílias dos sequestrados não assumiam suas responsabilidades de devedores. O juiz do caso entendeu que a quadrilha tinha razão, uma vez que como trabalhadores do crime os criminosos tinham legalmente direito a seu salário.
Como solução decidiu-se que os bandidos teriam direito a assaltar um banco para ressarcimento de danos morais e materiais. Eles foram a assaltaram. Como garantia levaram o gerente de refém. E o gerente passou a ser suspeito de ser sequestrado.
Nesse momento todos esqueceram do sequestro anterior e de todas as suas loucas consequências e passaram a perseguir o agora novo suspeito. Isto posto, tudo voltou à normalidade, mas até agora o gerente não foi capturado.



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