terça-feira, 18 de agosto de 2020


Política é o dinheiro, é conversa muita e o pé ligeiro

Por Emanoel Barreto

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), intenta permanecer no cargo por mais dois anos mesmo havendo proibição para que isso ocorra na mesma legislatura.

Mas o sonho de Alcolumbre tem pés plantados na solidez da realidade: Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, também estaria com idêntica disposição – e ele está, segundo sugere o noticiário. Assim, poderão unir forças em torno da mesma convergência de ideias, caso a situação venha a ser judicializada junto ao Supremo. 

O exemplo é bastante elucidativo de como funciona a política brasileira: como algo de propriedade de quem a saiba manejar, conheça seus meandros e esteja de acordo com a cultura política nacional. Resumindo: há uma compreensão de que política é um negócio como outro qualquer, e ponto.

As atividades partidárias, sejam no parlamento ou no executivo, foram tornadas uma espécie sui generis de carreira profissional: os eleitos têm aposentadoria, plano de saúde e, suprema alegria, podem literalmente dispor do dinheiro público como se aquele fizesse parte do seu patrimônio pessoal – e faz, termina fazendo. 

A intenção de continuar presidente do Senado mostra como o negócio do Poder é, além de tudo, sedutor o suficiente para que seus detentores queiram perpetuar-se. 

As Casas legislativas e o executivo são como haréns do Poder onde os mandatários, a exemplo dos antigos sultões, têm a seu dispor todos os prazeres que julguem necessários a seus apetites e desejos. E são muitos os que querem se satisfazer.

Ninguém se envergonha de usar para si as alturas decisórias, ninguém se cobre com o manto do respeito ao que se costumou chamar de coisa pública; é lamentável, mas a nossa cultura política, rasteira e patrimonialista, conseguiu se transformar em entidade institucional e consolidou em direito – e em dinheiro – o que em outros países seria considerado afronta e crime.

 O ambiente onde se plantam procedimentos como pagamento de moradia e mimos como passagem de avião e cota de combustível tornou-se a sala enevoada em penumbra suspeita, onde se permitem todas as licenças, negociatas, acertos, conchavos. Historicamente o noticiário é prova disso.
Esse é o país que temos. A política tornou-se uma endemia, os mandatos são delícias incuráveis. Não há previsão de melhora de quadro.

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