Política é o dinheiro, é conversa
muita e o pé ligeiro
Por Emanoel Barreto
O presidente do Senado, Davi
Alcolumbre (DEM-AP), intenta permanecer no cargo por mais dois anos mesmo
havendo proibição para que isso ocorra na mesma legislatura.
Mas o sonho de Alcolumbre tem pés
plantados na solidez da realidade: Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara,
também estaria com idêntica disposição – e ele está, segundo sugere o
noticiário. Assim, poderão unir forças em torno da mesma convergência de ideias,
caso a situação venha a ser judicializada junto ao Supremo.
O exemplo é bastante elucidativo
de como funciona a política brasileira: como algo de propriedade de quem a saiba
manejar, conheça seus meandros e esteja de acordo com a cultura política
nacional. Resumindo: há uma compreensão de que política é um negócio como outro
qualquer, e ponto.
As atividades partidárias, sejam
no parlamento ou no executivo, foram tornadas uma espécie sui generis de
carreira profissional: os eleitos têm aposentadoria, plano de saúde e, suprema
alegria, podem literalmente dispor do dinheiro público como se aquele fizesse
parte do seu patrimônio pessoal – e faz, termina fazendo.
A intenção de continuar presidente
do Senado mostra como o negócio do Poder é, além de tudo, sedutor o suficiente
para que seus detentores queiram perpetuar-se.
As Casas legislativas e o
executivo são como haréns do Poder onde os mandatários, a exemplo dos antigos sultões,
têm a seu dispor todos os prazeres que julguem necessários a seus apetites e desejos.
E são muitos os que querem se satisfazer.
Ninguém se envergonha de usar para
si as alturas decisórias, ninguém se cobre com o manto do respeito ao que se
costumou chamar de coisa pública; é lamentável, mas a nossa cultura política,
rasteira e patrimonialista, conseguiu se transformar em entidade institucional
e consolidou em direito – e em dinheiro – o que em outros países seria considerado
afronta e crime.
O ambiente onde se plantam
procedimentos como pagamento de moradia e mimos como passagem de avião e cota
de combustível tornou-se a sala enevoada em penumbra suspeita, onde se permitem
todas as licenças, negociatas, acertos, conchavos. Historicamente o noticiário é
prova disso.
Esse é o país que temos. A política
tornou-se uma endemia, os mandatos são delícias incuráveis. Não há previsão de
melhora de quadro.
............
Nenhum comentário:
Postar um comentário