Uma nova Idade das Trevas
e a multidão gritando:
“Queremos Deus!”
Por Emanoel Barreto
Conceitos difusos de Deus, pátria
e família estão levando certas parcelas da sociedade brasileira a um
caminho sombrio de elogio da violência, intransigência e brutalidade. Forças obscurantistas
saltam de suas furnas e urram a plenos pulmões a favor da tortura e do ódio.
Insolentes e impunes ocupam
espaços e logram êxito em sua desprezível pregação.
O caso da menina de dez anos, estuprada
e grávida, que se submeteu a um aborto é prova do que digo. Extremistas divulgaram
seu nome nas redes sociais e convocaram protestos em frente ao hospital
recifense onde se deu o procedimento. Um grupo de fanáticos veio e berrou
contra a criança violentada.
Tais pessoas não são conservadoras:
são algo mais profundo, perigoso e repulsivo; são bárbaros e fazem política por
outros meios. Ou seja: trabalham politicamente a construção de uma sociedade
onde haja o império de uma ordem à base do porrete, onde pensar diferente seja
crime e a liberdade deva ser amedrontada, silenciada, amordaçada, oculta.
Esses indivíduos buscam, em última instância, uma
nem tão sutil forma de totalitarismo. Tudo sob o manto do respeito a Deus, da devoção
à pátria, do apego à família.
O analfabetismo político de uns os leva a
magnificar tais princípios, pois desde a infância os tiveram inculcados em suas
mentes como forma de adequação a uma sociedade supostamente regida pelo
respeito, amor ao próximo e fidelidade aos deveres da cidadania; de outra parte
a má-intenção de grupos alojados no Poder trabalham uma certa esperteza velhaca
que lhes permite manipular os mesmos conceitos como forma de cimentar e respaldar
seus propósitos de domínio e direção.
Os ingênuos e os brutos poderoso se
reúnem então em um mesmo discurso e formam uma sólida frente única. As palavras
de ordem lhes retiram qualquer forma de pensamento racional e a barbaridade então
se dá: seja na rua com agrupamentos violentos, seja na internet em sua condição
de praça social bradam a favor da violência e da mordaça.
Estamos vivenciando uma realidade
em que nos avizinhamos perigosamente de uma Idade das Trevas. Quem sabe em
breve serão encontradas bruxas e arderão novamente as fogueiras. E então a multidão
de bárbaros vai gritar: “Queremos Deus! Queremos Deus!”
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