segunda-feira, 17 de agosto de 2020


Uma nova Idade das Trevas
 e a multidão gritando: 
“Queremos Deus!”

Por Emanoel Barreto

Conceitos difusos de Deus, pátria e família estão levando certas parcelas da sociedade brasileira a um caminho sombrio de elogio da violência, intransigência e brutalidade. Forças obscurantistas saltam de suas furnas e urram a plenos pulmões a favor da tortura e do ódio.

Insolentes e impunes ocupam espaços e logram êxito em sua desprezível pregação.

O caso da menina de dez anos, estuprada e grávida, que se submeteu a um aborto é prova do que digo. Extremistas divulgaram seu nome nas redes sociais e convocaram protestos em frente ao hospital recifense onde se deu o procedimento. Um grupo de fanáticos veio e berrou contra a criança violentada.

Tais pessoas não são conservadoras: são algo mais profundo, perigoso e repulsivo; são bárbaros e fazem política por outros meios. Ou seja: trabalham politicamente a construção de uma sociedade onde haja o império de uma ordem à base do porrete, onde pensar diferente seja crime e a liberdade deva ser amedrontada, silenciada, amordaçada, oculta.

 Esses indivíduos buscam, em última instância, uma nem tão sutil forma de totalitarismo. Tudo sob o manto do respeito a Deus, da devoção à pátria, do apego à família. 

O analfabetismo político de uns os leva a magnificar tais princípios, pois desde a infância os tiveram inculcados em suas mentes como forma de adequação a uma sociedade supostamente regida pelo respeito, amor ao próximo e fidelidade aos deveres da cidadania; de outra parte a má-intenção de grupos alojados no Poder trabalham uma certa esperteza velhaca que lhes permite manipular os mesmos conceitos como forma de cimentar e respaldar seus propósitos de domínio e direção.

Os ingênuos e os brutos poderoso se reúnem então em um mesmo discurso e formam uma sólida frente única. As palavras de ordem lhes retiram qualquer forma de pensamento racional e a barbaridade então se dá: seja na rua com agrupamentos violentos, seja na internet em sua condição de praça social bradam a favor da violência e da mordaça.

Estamos vivenciando uma realidade em que nos avizinhamos perigosamente de uma Idade das Trevas. Quem sabe em breve serão encontradas bruxas e arderão novamente as fogueiras. E então a multidão de bárbaros vai gritar: “Queremos Deus! Queremos Deus!”


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