O perigo da volta às aulas
Por Emanoel Barreto
Enquanto pesquisa Datafolha
anuncia que 79% dos brasileiros dizem que a reabertura das escolas agravará a
pandemia o Sindicato das Escolas Particulares do RN insiste no retorno às aulas.
A entidade está em conversações com a Secretaria de Educação que “já relatou
não ter impedimento quanto ao retorno das aulas presenciais das escolas
privadas antes da rede pública”, segundo a Tribuna do Norte, edição de hoje.
A mesma Tribuna do Norte informa
que especialistas em infectologia “passaram a se preocupar, após uma
notificação do Ministério da Saúde no dia 20 de julho, com a Síndrome Inflamatória
Multissistêmica Pediátrica, que acomete crianças e adolescentes de 0 a 19 anos
e que pode estar relacionada à covid-19.”
O jornal detalha que estão sendo
programadas medidas sanitárias e de prevenção visando a volta às aulas, que ainda
não têm data marcada.
E voltando-se às aulas as medidas
serão suficientes? Ou são apenas parte de um discurso para racionalizar e
tornar aceitável o perigo a que as crianças estarão expostas?
Há informações de que o Rio Grande do Norte está
apresentando queda no número de casos e que leitos estão sendo desocupados, o
que nos dá algum alívio. Mas, pergunto: a governadora Fátima Bezerra vai topar
o risco de que morra uma criança, uma só criança por efeito de haver retornado
à sala de aula e ali ter sido contaminada? Vale a pena o risco?
Fátima não é tola, vem agindo com prudência e segurando
o retorno às aulas; sabe que havendo qualquer fato grave com as crianças seus
opositores terão todos os motivos para dizer: “Eu já sabia. Ela também sabia e mesmo
assim jogou as crianças de volta às aulas.”
Nenhuma medida de proteção à
covid-19 é garantia absoluta, especialmente quando se trata de aglomeração maior
ou menor.
A respeito do assunto a Folha traz
opinião de Claudia Cotim, ex-diretora de educação do Banco Mundial: “Ainda não estabilizamos
o número de casos e não paramos de crescer, por isso é precipitado anunciar a
volta das escolas. Mesmo países que haviam controlado a pandemia tiveram uma
segunda onda de contágio com a retomada das aulas presenciais, imagine o que
pode ocorrer aqui.”
Creio que não há como controlar
crianças em um colégio. As brincadeiras, o contato pessoal, tudo isso
representa um risco. O vírus é invisível, mas é perfeitamente observável o
sofrimento de quem o contraiu e adoeceu.
Trazer de volta as aulas é como alguém
querer participar de uma corrida de touros em Pamplona, Espanha, e pedir certificado
de que nada de mal lhe acontecerá enquanto corre pelas ruas sob perseguição de poderosos
touros Miura.
Diante do que disse, sugiro: se
forem mesmo trazer de volta as aulas creio que antes seria bom combinar com o coronavírus.
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