terça-feira, 18 de agosto de 2020


O perigo da volta às aulas
Por Emanoel Barreto

Enquanto pesquisa Datafolha anuncia que 79% dos brasileiros dizem que a reabertura das escolas agravará a pandemia o Sindicato das Escolas Particulares do RN insiste no retorno às aulas. A entidade está em conversações com a Secretaria de Educação que “já relatou não ter impedimento quanto ao retorno das aulas presenciais das escolas privadas antes da rede pública”, segundo a Tribuna do Norte, edição de hoje.

A mesma Tribuna do Norte informa que especialistas em infectologia “passaram a se preocupar, após uma notificação do Ministério da Saúde no dia 20 de julho, com a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica, que acomete crianças e adolescentes de 0 a 19 anos e que pode estar relacionada à covid-19.”

O jornal detalha que estão sendo programadas medidas sanitárias e de prevenção visando a volta às aulas, que ainda não têm data marcada.
E voltando-se às aulas as medidas serão suficientes? Ou são apenas parte de um discurso para racionalizar e tornar aceitável o perigo a que as crianças estarão expostas?

Há informações de que o Rio Grande do Norte está apresentando queda no número de casos e que leitos estão sendo desocupados, o que nos dá algum alívio. Mas, pergunto: a governadora Fátima Bezerra vai topar o risco de que morra uma criança, uma só criança por efeito de haver retornado à sala de aula e ali ter sido contaminada? Vale a pena o risco?

Fátima não é tola, vem agindo com prudência e segurando o retorno às aulas; sabe que havendo qualquer fato grave com as crianças seus opositores terão todos os motivos para dizer: “Eu já sabia. Ela também sabia e mesmo assim jogou as crianças de volta às aulas.”

Nenhuma medida de proteção à covid-19 é garantia absoluta, especialmente quando se trata de aglomeração maior ou menor. 

A respeito do assunto a Folha traz opinião de Claudia Cotim, ex-diretora de educação do Banco Mundial: “Ainda não estabilizamos o número de casos e não paramos de crescer, por isso é precipitado anunciar a volta das escolas. Mesmo países que haviam controlado a pandemia tiveram uma segunda onda de contágio com a retomada das aulas presenciais, imagine o que pode ocorrer aqui.”

Creio que não há como controlar crianças em um colégio. As brincadeiras, o contato pessoal, tudo isso representa um risco. O vírus é invisível, mas é perfeitamente observável o sofrimento de quem o contraiu e adoeceu.
Trazer de volta as aulas é como alguém querer participar de uma corrida de touros em Pamplona, Espanha, e pedir certificado de que nada de mal lhe acontecerá enquanto corre pelas ruas sob perseguição de poderosos touros Miura. 

Diante do que disse, sugiro: se forem mesmo trazer de volta as aulas creio que antes seria bom combinar com o coronavírus.  


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