domingo, 12 de março de 2017

Rio Grande da morte, Rio Grande sem sorte

Bosco Lopes em foto do Diário de Natal
Hoje lembrei-me de um poema de Bosco Lopes. Um poema chamado Riogrande. Trascrevo para você ler. Peço apenas que espere um pouco, antes veja o que tenho a dizer sobre o poeta.

Bosco foi menino comigo, estudamos no Ginásio São Luís, dirigido pelo padre – depois monsenhor – Eymard Eymard l’Eraître Monteiro, a quem os alunos chamavam de Pademá.
Bosco não cursou universidade. A vida preferiu diplomá-lo poeta e boêmio. As duas graduações juntas, miméticas, camaleônicas uma à outra. A vida, por isso mesmo, pôr o haver laureado poeta e boêmio, o malhou duro.

 A vida é assim: premia o sujeito com a sensibilidade, a poesia e a boemia e esses mesmos prêmios terminam por compor o seu epitáfio. Dá trabalho e é perigoso – muito – o, ser poeta e boêmio ao mesmo tempo. 

Bosco publicou, em toda a sua curta e vivaz permanência, um único livro: "Corpo de pedra". Levou anos, os originais se remexendo na gaveta, para que a Fundação José Augusto o viesse a trazer ao olhar do mundo.  

Entrevistei Bosco em meados dos anos 1975. Matéria sobre o livro. Editada em edição dominical do Poti, quando havia um belo caderno, o Módulo III, destinado à cultura. O título da matéria foi "Bosco Lopes tem corpo de pedra".

Então, anos depois a vida leva aquele frágil e forte poeta e hoje ele é saudade. Saudade de você, Bosco. De ver você tão talentoso e esquecido ainda em vida; tão tímido, humilde, humildemente transitando, a olhar muitos faustosos pavões de cauda suja. 

Sem mais, leia "Riogrande". Em alguma parte, em algum Beco da Lama do Céu, Bosco vai ouvir. Leia em silêncio: os anjos ouvem o silêncio.

Riogrande
Rio grande da morte
Rio grande sem sorte
Rio grande sem forte
Rio Grande do Norte

Rio pequeno do Norte
Rio finito do corte
Rio seco de sorte
Rio Grande do Norte

Rio sem cais sem porto
Rio você já foi morto
Rio de leito torto
Rio chorando de fome
Rio triste sem nome
Rio cansado que some

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