Rio Grande
da morte, Rio Grande sem sorte
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Bosco Lopes em foto do Diário de Natal |
Hoje lembrei-me de um poema de
Bosco Lopes. Um poema chamado Riogrande. Trascrevo para você ler.
Peço apenas que espere um pouco, antes veja o que tenho a dizer sobre o poeta.
Bosco foi menino comigo,
estudamos no Ginásio São Luís, dirigido pelo padre – depois monsenhor – Eymard Eymard
l’Eraître Monteiro, a quem os alunos chamavam de Pademá.
Bosco não cursou universidade. A
vida preferiu diplomá-lo poeta e boêmio. As duas graduações juntas, miméticas,
camaleônicas uma à outra. A vida, por isso mesmo, pôr o haver laureado poeta e
boêmio, o malhou duro.
A vida é assim: premia o
sujeito com a sensibilidade, a poesia e a boemia e esses mesmos prêmios terminam
por compor o seu epitáfio. Dá trabalho e é perigoso – muito – o, ser poeta e
boêmio ao mesmo tempo.
Bosco publicou, em toda a sua curta e vivaz permanência,
um único livro: "Corpo de pedra". Levou anos, os originais se
remexendo na gaveta, para que a Fundação José Augusto o viesse a trazer ao
olhar do mundo.
Entrevistei Bosco em meados dos
anos 1975. Matéria sobre o livro. Editada em edição dominical do Poti, quando
havia um belo caderno, o Módulo III, destinado à cultura. O título da matéria
foi "Bosco Lopes tem corpo de pedra".
Então, anos depois a vida leva aquele frágil e forte
poeta e hoje ele é saudade. Saudade de você, Bosco. De ver você tão talentoso e
esquecido ainda em vida; tão tímido, humilde, humildemente transitando, a olhar
muitos faustosos pavões de cauda suja.
Sem mais, leia "Riogrande". Em alguma parte, em algum Beco da Lama do Céu, Bosco vai ouvir. Leia em silêncio: os anjos ouvem o silêncio.
Riogrande
Rio grande da morte
Rio grande sem sorte
Rio grande sem forte
Rio Grande do Norte
Rio grande sem sorte
Rio grande sem forte
Rio Grande do Norte
Rio pequeno do
Norte
Rio finito do corte
Rio seco de sorte
Rio Grande do Norte
Rio sem cais sem
portoRio finito do corte
Rio seco de sorte
Rio Grande do Norte
Rio você já foi morto
Rio de leito torto
Rio chorando de fome
Rio triste sem nome
Rio cansado que some
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