Terceirização, desemprego e pirataria
Construído sobre alicerces e muralhas de privilégios,
estabelecendo torres de inacessibilidade aos sem-tudo, o Brasil segue sua
tragédia histórica e a torna o suprassumo dos malefícios com a aprovação do terceirizado
como forma essencial de prestação de trabalho.
Deputados escanchados em seus mandatos dão a quem os patrocinou
o retorno do investimento: colocar o trabalhador como subespécie de máquina,
peças que podem ser retiradas a qualquer momento.
Tudo para manter um sistema de elites, estamentos, quase
castas dos que têm de tudo para que milhões fiquem com quase nada.
A cobiça, a ganância, movem todo o processo; mas são
disfarçadas por um discurso que inverte a realidade e diz que o objetivo é
garantir o emprego.
Que emprego? Uma colocaçãozinha temporária de seis meses, renovável
por mais três meses? Terminado o prazo o patrão diz que você não passou no
teste e pode ir embora. Haverá outro para o seu lugar. Exército de reserva, já
ouviu falar?
O grande objetivo é assegurar às elites a continuidade de sua
situação mesmo que o PIB esteja caindo, a economia encolha e tudo esteja
desabando.
Leio na versão brasileira do El País: “Grande parte dos
sindicatos e movimentos sociais, os principais opositores, temem a precarização
da relação trabalhista. Eles argumentam que a nova legislação incentivará as
empresas a demitirem trabalhadores que estão sob o regime CLT para contratar
terceirizados, com remuneração menor.
“Um levantamento realizado pela Central Única dos
Trabalhadores (CUT) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese), em 2015, mostrou que os terceirizados recebiam em
média 30% a menos que os contratados diretos.”
A redução de direitos, a precarização das relações
trabalhistas, o temor permanente do desemprego, levarão o trabalhador menos
qualificado a aceitar literalmente “qualquer coisa”, o empreguinho de ocasião,
a esmola suja que lhe for estendida.
Ao longo do tempo histórico sentiremos as consequências de tão
nefasta legislação. Voltaremos a viver num sui generis navio negreiro. E não
teremos nenhum porto aonde desembarcar porque as praias também estarão cheias
de piratas.
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