quinta-feira, 23 de março de 2017



Terceirização, desemprego e pirataria

Construído sobre alicerces e muralhas de privilégios, estabelecendo torres de inacessibilidade aos sem-tudo, o Brasil segue sua tragédia histórica e a torna o suprassumo dos   malefícios com a aprovação do terceirizado como forma essencial de prestação de trabalho. 

Deputados escanchados em seus mandatos dão a quem os patrocinou o retorno do investimento: colocar o trabalhador como subespécie de máquina, peças que podem ser retiradas a qualquer momento.
Tudo para manter um sistema de elites, estamentos, quase castas dos que têm de tudo para que milhões fiquem com quase nada. 

A cobiça, a ganância, movem todo o processo; mas são disfarçadas por um discurso que inverte a realidade e diz que o objetivo é garantir o emprego. 

Que emprego? Uma colocaçãozinha temporária de seis meses, renovável por mais três meses? Terminado o prazo o patrão diz que você não passou no teste e pode ir embora. Haverá outro para o seu lugar. Exército de reserva, já ouviu falar?

O grande objetivo é assegurar às elites a continuidade de sua situação mesmo que o PIB esteja caindo, a economia encolha e tudo esteja desabando. 

Leio na versão brasileira do El País: “Grande parte dos sindicatos e movimentos sociais, os principais opositores, temem a precarização da relação trabalhista. Eles argumentam que a nova legislação incentivará as empresas a demitirem trabalhadores que estão sob o regime CLT para contratar terceirizados, com remuneração menor.

“Um levantamento realizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 2015, mostrou que os terceirizados recebiam em média 30% a menos que os contratados diretos.”

A redução de direitos, a precarização das relações trabalhistas, o temor permanente do desemprego, levarão o trabalhador menos qualificado a aceitar literalmente “qualquer coisa”, o empreguinho de ocasião, a esmola suja que lhe for estendida. 

Ao longo do tempo histórico sentiremos as consequências de tão nefasta legislação. Voltaremos a viver num sui generis navio negreiro. E não teremos nenhum porto aonde desembarcar porque as praias também estarão cheias de piratas.

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