sexta-feira, 30 de dezembro de 2016


O Minotauro - Pablo Picasso. Em https://bloghar2.wordpress.com/2013/12/21/mitologia-clasica-y-estudi-dart/

Temer e o minotauro transmoderno
 
O projeto de poder ora em processo de demarragem é algo de dimensões ciclópicas. Seus desdobramentos estão assegurados juridicamente e suas consequências sociais, econômicas e históricas extremamente perversas. E essa é mesmo a ideia de quem o projetou e leva adiante.  
Quando faço referência ao substantivo poder não indago a respeito do Poder, aquela instância que detém a capacidade de tomar decisões estatais e governativas, gerir a sociedade. Não, nada disso.
Uso poder como um momentum complexo, que engloba as instâncias estatal e governativa e as faz subsumir às intenções e propósitos das grandes empresas nacionais, multi e transnacionais.
Falo do poder sucumbido e a serviço dos interesses privados dominantes. É isso o que se passa nesse país: os trabalhadores esmigalhados enquanto segmento de consciência; a riqueza do chão, estratégica, sendo entregue ao capital globalizado; e um grande, intenso trabalho de naturalizar e justificar que toda exploração se justifica para o enfrentamento da “crise”.
A “crise” foi tornada uma espécie de animal mitológico transmoderno, um ser que percorre as ruas e devora empregos e salários.
O país virou um labirinto, e se alardeia que algo como um minotauro cruel e louco vai devorar a todos, salvo se lhe renderem homenagem entregando suas vidas e seu trabalho e preço vil – e agradecendo por isso.
Na verdade o labirinto existe na cabeça das pessoas. Lincadas por um sistema midiático que vai desde os grandes jornais, passa pelas TVs que gritam crise o dia inteiro e chega às redes sociais, o volume de informações genéricas gera um largo e profundo processo de desinformação e temor, tornando mais fácil a vida do minotauro transmoderno.
A presença de Michel Temer é apenas um microssegundo nesse processo todo. Sua microscópica figura perder-se-á nos descaminhos da História, salvo eventual referência ao papel sevandija a que se deu.
Mas, a malignidade de seus atos se projetará ao longo do tempo, do grande tempo histórico; tempo profundo e largo o suficiente para enterrar geração após geração as vidas de milhões de brasileiros, os desgarrados da sorte que começam a ser semeados pelo sistema hoje no poder.  
Este país precisa urgentemente mobilizar uma sociedade civil atenta, corajosa, democrática. Que seja pacifista porém resiliente e determinada a enfrentar o minotauro transmoderno na busca de alternativas à entrega das riquezas nacionais, como é o caso do Aquífero Guarani, reserva de água doce com mais de 1,2 milhão de quilômetros quadrados, que atraiu a cobiça da Coca-Cola e da Nestlé.
O minotauro transmoderno está solto e as pessoas acreditam nele. Isso facilita sua ação e o seu terror. E o pior é que quem o criou também acredita; e nele confia para levar adiante o plano de transformar o país num campo onde seja fácil conduzir um homem. Basta uma argola midiática em seu nariz e pronto: ele irá aonde o seu senhor mandar.  

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