A história
do homem suspeito
de ser sequestrado
Conto aqui caso gravíssimo que aconteceu no
território da minha imaginação brasileira: um homem foi suspeito de ser
sequestrado e passou horrores.
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Foi o seguinte: a manchete do principal jornal da
cidade anunciou que um grande comerciante estava sob suspeita de ter sido
sequestrado. Imediatamente as polícias civil, militar e federal
entraram em estado de alerta porque quem é suspeito é suspeito de algo, ou
seja: o verbo suspeitar sugere que o sujeito alvo da suspeição é praticante de
crime. Se não fosse assim não seria um suspeito.
Ora, o homem que tinha sido sequestrado mesmo,
estava padecendo em seu cativeiro. Enquanto isso as polícias ativavam seus
serviços de inteligência para que fosse capturado. Quando o cativeiro foi
estourado pela polícia civil lá estava o pobre: acorrentado e amordaçado. Os
bandidos haviam fugido minutos antes.
Então, estando sob cárcere privado, ou seja,
confirmado o sequestro, havia ali prova material de que o homem era realmente culpado
por ter sido sequestrado. Se não fosse, não estaria ali, em local típico de
criminosos.
Quando os agentes saíam com o agora bandido, que alegava aos brados que não era bandido, mas empresário, portanto pessoa ordeira e, mais que isso, vítima, chegaram os policiais militares. Imediatamente deram voz de prisão a todos. E de nada adiantou os policiais civis afirmar que eram agentes da lei: os soldados disseram que, se estavam em companhia de criminoso ocorria ali a formação de bando ou quadrilha e assim policiais civis e empresário foram postos em camburões.
Quando já seguiam para a delegacia, chega a polícia
federal que por sua vez também prende a todos sob a mesma alegação: formação de
quadrilha, crime agravado por serem todos homens da lei, conluiados com homem
suspeito de ter sido sequestrado.
A polícia federal então pensou em levar todo o já
enorme grupo à prisão quando a Força Nacional de Segurança ia passando e, ao
ver aquele amontoado, capturou a todos imediatamente. Estabeleceu-se então
grande tumulto e começou um tiroteio. Alguém chamou as Forças Armadas, pois
pensou-se que ali havia algum tipo de levante, revolta ou até mesmo revolução,
luta armada.
Então todo mundo começou a prender todo mundo e, ao
final das contas, todo o aparelho armado do país estava envolvido e todos
prenderam a todos, incluindo a população, que em meio a gritos de "o povo
unido jamais será vencido “configurou situação de ato subversivo e todo subversivo
deve ser tirado de circulação.
Em meio à sedição agora instalada coube a um bandido, chefe da pior quadrilha do país, ter uma ideia: sequestrar alguém para pedir resgate. Pior: a quadrilha sequestrou todo mundo para garantir um bom lucro. Mas como todos estavam sequestrados não havia ninguém a quem cobrar o tal resgate.
Assim a quadrilha denunciou à
Justiça que tinha uma grande fortuna a receber, mas as famílias dos
sequestrados não assumiam suas responsabilidades de devedores. O juiz do caso
entendeu que a quadrilha tinha razão, uma vez que como trabalhadores do crime os
criminosos tinham legalmente direito a seu salário.
Como solução decidiu-se que os bandidos teriam
direito a assaltar um banco para ressarcimento de danos morais e materiais.
Eles foram a assaltaram. Como garantia levaram o gerente de refém. E o gerente
passou a ser suspeito de ser sequestrado. Nesse momento todos esqueceram do
sequestro anterior e de todas as suas loucas consequências e passaram a
perseguir o agora novo suspeito. Isto posto, tudo voltou à normalidade, mas até
agora o gerente não foi capturado.
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