segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Vamos gastar dinheiro com a juventude dourada



Programas sociais podem ser extintos; mas não mexam na Olimpíada, ok?

Leio na Folha que o ministro do Planejamento, Valdir Simão, fez um anúncio funesto: o governo federal pretende “reavaliar” e poderá “descontinuar” programas sociais. Diz o jornal: “O governo quer acabar com o ‘piloto automático’ dos programas federais, inclusive os da área social, para ‘descontinuar’ os que não têm mais sentido e reforçar os mais eficazes.”

Os péssimos augúrios incluem, veja só: Farmácia Popular, Garantia Safra, Unidades de Pronto Atendimento e construção de creches Pró-Infância. Isso para promover a desburocratização, reorganização administrativa, fortalecer a gestão e fazer o controle do gasto público, afirma o jornal citando o ministro. 

Mas, pensando bem, se esse negócio é para desburocratizar, reorganizar, fortalecer gestão e controlar gastos é coisa muito boa, não? É sim; é muito bom. Isso, pessoal, é racionalização: ra-cio-na-li-za-ção. Racionalização é a palavra. Trabalhar de maneira cerebral, organizada, disciplinada e pujante.

Sendo assim, acho que o governo tem razão. Deve mesmo é colocar aqueles programas sob suspeita de ser desnecessários. Veja só: onde já se viu governo que se preza garantir medicamento a preço popular a quem não pode comprar remédios? Na Somália isso não existe. Portanto, devemos seguir o seu exemplo. 

Qual a importância das Unidades de Pronto Atendimento num país como o Brasil? Nenhuma. Quem quiser que pague plano de saúde e deixe de ser imprevidente. 

Para que dar amparo ao agricultor com um programa absurdo como o Garantia Safra? Fora! Agricultor tem de saber a época certa de plantar, ora.
E acima de tudo: onde já se viu gastar dinheiro público com creches? Pelo amor de Deus; o governo já deveria ter há muito tempo extinguido tais ações. 

Inversamente, em sentido totalmente contrário a tais problemas chatíssimos, precisamos sim de alegria e festejos. Precisamos é da Olimpíada do Rio, não é mesmo? 

Olimpíada é investimento, grandeza; deslumbre com atletas jovens e saudáveis.  Magníficos como o deus Apolo tendo a seu lado mulheres lindas como Diana, a arqueira, a caçadora. 

Sabe quanto será investido nesses jogos tão essenciais? Uma micharia, segundo descubro na imprensa: inicialmente o curso seria de 5,6 bilhões, agora serão 7 bilhões. Pelo amor de Deus: é muito pouco para tanto brilho; que Zeus nos tenha e a aurora de róseos dedos nos acolha e ilumine. 

E por favor não reclame: se as obras da Olimpíada estão sendo feitas é porque são coisa importante; mais que isso, necessárias. Acima de tudo urgentes. Urgentíssimas, melhor dizendo. 

O que você prefere: ver musculosos atletas dando saltos prodigiosos e lindas e graciosas moças se exibindo, ou saber pelo noticiário que pessoas feias, pobres, e, acima de tudo doentes querem dinheiro para hospitais? 

Não conheço ninguém que faça a opção pela feiura, menos ainda pela doença. Todos queremos ver beleza e saúde. Então, que o governo faça uma revisão firme em seus programas, lembre-se também de manter a decisão de retirar direitos de trabalhadores na aposentadoria e sustente a decisão de promover os grandiosos jogos olímpicos do Rio. 

E, da mesma forma, aproveite as águas desse mesmo Rio para lavar a roupa suja da nossa pátria amada, salve, salve...


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