Programas
sociais podem ser extintos; mas não
mexam na Olimpíada, ok?
Leio na Folha que o ministro do
Planejamento, Valdir Simão, fez um anúncio funesto: o governo federal pretende “reavaliar”
e poderá “descontinuar” programas sociais. Diz o jornal: “O governo quer acabar
com o ‘piloto automático’ dos programas federais, inclusive os da área social,
para ‘descontinuar’ os que não têm mais sentido e reforçar os mais eficazes.”
Os péssimos augúrios incluem,
veja só: Farmácia Popular, Garantia Safra, Unidades de Pronto Atendimento e
construção de creches Pró-Infância. Isso para promover a desburocratização, reorganização
administrativa, fortalecer a gestão e fazer o controle do gasto público, afirma
o jornal citando o ministro.
Mas, pensando bem, se esse
negócio é para desburocratizar, reorganizar, fortalecer gestão e controlar
gastos é coisa muito boa, não? É sim; é muito bom. Isso, pessoal, é racionalização:
ra-cio-na-li-za-ção. Racionalização é a palavra. Trabalhar de maneira cerebral,
organizada, disciplinada e pujante.
Sendo assim, acho que o governo
tem razão. Deve mesmo é colocar aqueles programas sob suspeita de ser
desnecessários. Veja só: onde já se viu governo que se preza garantir
medicamento a preço popular a quem não pode comprar remédios? Na Somália isso
não existe. Portanto, devemos seguir o seu exemplo.
Qual a importância das Unidades
de Pronto Atendimento num país como o Brasil? Nenhuma. Quem quiser que pague
plano de saúde e deixe de ser imprevidente.
Para que dar amparo ao agricultor
com um programa absurdo como o Garantia Safra? Fora! Agricultor tem de saber a época
certa de plantar, ora.
E acima de tudo: onde já se viu
gastar dinheiro público com creches? Pelo amor de Deus; o governo já deveria
ter há muito tempo extinguido tais ações.
Inversamente, em sentido
totalmente contrário a tais problemas chatíssimos, precisamos sim de alegria e
festejos. Precisamos é da Olimpíada do Rio, não é mesmo?
Olimpíada é investimento,
grandeza; deslumbre com atletas jovens e saudáveis. Magníficos como o deus Apolo tendo a seu lado
mulheres lindas como Diana, a arqueira, a caçadora.
Sabe quanto será investido
nesses jogos tão essenciais? Uma micharia, segundo descubro na imprensa: inicialmente
o curso seria de 5,6 bilhões, agora serão 7 bilhões. Pelo amor de Deus: é muito
pouco para tanto brilho; que Zeus nos tenha e a aurora de róseos dedos nos
acolha e ilumine.
E por favor não reclame: se as
obras da Olimpíada estão sendo feitas é porque são coisa importante; mais que
isso, necessárias. Acima de tudo urgentes. Urgentíssimas, melhor dizendo.
O que você prefere: ver
musculosos atletas dando saltos prodigiosos e lindas e graciosas moças se
exibindo, ou saber pelo noticiário que pessoas feias, pobres, e, acima de tudo
doentes querem dinheiro para hospitais?
Não conheço ninguém que faça a opção
pela feiura, menos ainda pela doença. Todos queremos ver beleza e saúde. Então,
que o governo faça uma revisão firme em seus programas, lembre-se também de
manter a decisão de retirar direitos de trabalhadores na aposentadoria e
sustente a decisão de promover os grandiosos jogos olímpicos do Rio.
E, da mesma forma, aproveite as
águas desse mesmo Rio para lavar a roupa suja da nossa pátria amada, salve,
salve...
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