sexta-feira, 23 de março de 2012

Chico Anísio: saudade em superlativo absoluto sintético

Não, não morreu apenas um homem, no sentido de um único homem, especial, inteiro, irrepetível. Com ele morreram muitos. Chico era muitos. Seu talento abrigava, como uma vasta casa sertaneja, aquelas de alpendrada larga, a vida de muitos personagens, todos vivos, vivíssimos, em sua verve vivacíssima - isso mesmo, superlativo absoluto sintético.
Folha de S. Paulo

Então, Chico era isso: superlativo absoluto sintético. Reunia em si coisa muita, uma brasilidade inteira, um grande samba exaltação do que seja ser brasileiro; brasileiro, esse modo de vida, estilo de ser: intenso e forte, pianíssimo em cada gargalhada. 

Vá. E onde quer que esteja, incorpore  agora o novo personagem: a saudade, torne-se saudade, seja saudade. Mas, veja só: ser saudade é coisa difícil, para você, não? Digo isso porque saudade, esse substantivo feminino fusco e pardo, cheio de meios tons e desvãos de cinza, sempre tendente à tristeza, tem o dom da despedida e isso não combina com o seu humor.

Mas, enfim, é isso: o Brasil está meio sem graça. Essa a grande realidade. Não tem graça nenhuma perder Chico Anísio. E o pior, Chico, é que o Brasil é uma piada, na verdade, uma grande piada. E você, como ninguém, soube nos fazer ser essa piada. E rir de nós mesmo. E o salário mínimo, ó....

Encerrando, digo: "Adeus, Chico. No mínimo, você era o máximo." 
E como no máximo meu texto é mínimo para dizer o que penso, penso que é melhor não pensar que perdemos o que a gente não devia, não podia perder: você e todos os personagens que moravam em você.

Um comentário:

Anônimo disse...

Como sempre, texto m a r a v i l h o s o professor. Parabéns!
Teinha Magalhães