domingo, 13 de maio de 2012

Olá, Amigos,

Magnífica e ancestral impressora encontrada na Biblioteca Nacional do Uruguai
Voltei do Uruguai e do seu frio cortante. Cheguei tangido, puxado pelo braço por um vento vaqueiro.E abraçado, ao pisar o nosso chão, por uma brisa praieira e nordestina. Quando vou a esses países hermanos, sempre a trabalho, sempre percorrendo seus espaços de congressos e encontros de professores de jornalismo, lá está ele, o frio. Sabe que sou um cabra do Nordeste e percebe que seu jeito de ser é um e o meu é outro. Sabe que sou de gibão de couro e ele veste-se de poncho. Mas me recebe bem e me dá uns agasalhos. É uma forma de o frio me chamar de amigo.

Foi uma experiência, boa, como boas foram as da Colômbia e Argentina, já lá se vão uns seis anos. O povo do frio tem roupagem diferente da nossa. Cobre-se de vestuário pesado e elegante, formal e vistoso. Eles me atendem bem e dizem que sou "muy amable". 

Montevidéu tem um aspecto belo, com suas ruas outonais recobertas pela folhagem triste dos plátanos. Casais, muitos de idade antiga e gris, dançam tango ao entardecer às margens do Prata, um rio que tem muito de mar. E estando nós de um lado não se lhe vemos a outra margem, tamanha a sua largura. Belo rio. Às vezes, tocado por um vento poderoso, atira-se em ondas magistrais sobre a pista e lava os carros com ímpeto e força. 

Quase dois milhões de almas austrais percorrem requintadamente suas ruas - de casas  muitas em estilo pesado, bem espanhol. Às vezes o olhar se queda chocado: é que em meio aos homens e mulheres bem vestidos deambulam fantasmas: são os pobres e os miseráveis do lugar, envoltos em pesadíssimos trapos. Apanhando pontas de cigarro pelo chão e dizendo, com sua simples presença que como nós são latinos. E compartilham o sofrimento endêmico de nossa teia histórica de injustiça e exclusão.

Foi uma semana de muito trabalho, reuniões e apresentação do meu trabalho. Na tarde antes da partida, em frente ao hotel onde estava, um cantor de rua entoava tangos tristíssimos acompanhado de sua guitarra e de um teclado. Olhei lá de cima o espetáculo e senti uma ponta de saudade antecipada. Agradeci ao Uruguai, agradeci ao frio ter recebido este cabra nordestino e solar e prometi algum dia voltar. 

Hasta la vista, Uruguai. Hasta la vista...

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