Vida de povo, vida de gado
Leio na Folha e logo abaixo comento: Em um abrigo de ônibus da avenida Padre Pereira de Andrade, em Alto de Pinheiros (zona oeste de SP), garranchos coloridos formam um painel de pichações. Na av. professor Fonseca Rodrigues, perto da praça Panamericana, o spray deixa um palavrão e a reivindicação: "Passe livre aos estudantes".
A situação de abandono e depredação dos cerca de 7.000 abrigos de ônibus com cobertura da capital foi constatada pela Folha em 20 pontos diferentes, nas zonas oeste, sul e central.
O sentimento comum entre os usuários ouvidos é de resignação. "É comum tomar chuva debaixo do abrigo, mas a gente nem repara, porque já estamos acostumados", diz a doméstica Simone Molica, 42, que estava na avenida Jabaquara.
"Onde há abrigos, estão mal conservados, falta limpeza, pintura e arrumar as coberturas, que muitas vezes estão quebradas", diz a professora Rosa Maia, 37, que esperava um ônibus na av. Brigadeiro Luís Antônio."Às vezes todas as telhas estão quebradas", diz o aposentado Eliakim Bezerra, 69, na rua Fagundes Filho, na Saúde (zona sul). O ponto ficou cerca de seis meses com o teto arrebentado e foi consertado há um mês.
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Elegia do povo só
Sina ou sorte perigosa, eis a visão do povo:
largado à própria sorte, cabisbaixo e perdedor.
Acostumado com o medo, se abriga sempre ao léu.
Depois, triste e decaído,
caminha ao seu próprio fim
Nos arrabaldes da vida, se perde onde puder.
Se puder, pede ajuda, que de ninguém não terá.
E tendo o que não é ter
Sabe que jamais terá o que o seria o tal ter.
O povo é um bicho manso,
perdido num campo grande.
É gado que come a fome
E da fome enche a barriga.
Depois nem berrar não pode
Que disso desaprendeu.
E calado segue o passo
Até se tornar jamais.
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