quinta-feira, 7 de julho de 2011

Um micróbio no Senado

Caminhava pela Deodoro ontem quando vi inusitada cena, momento indescritível quase. Meu amigo Pancrácio, que gosta de ser conhecido e reconhecido como o homem mais ocioso do mundo, passava por lá. Nada de mais não fosse o fato de estar deitado em enorme cama em cujos quatro cantos havia varais. Assim, a cama era na prática uma liteira. Em cada varal dez homens. Quarenta ao todo garantiam o sossego e a preguiça de Pancrácio. Seguiam em marcha lenta. De cada lado desse estranho veículo duas filas de lindas núbias sustentavam sobre Pancrácio enormes leques, daqueles que a gente vê em filme de paxá, lembra?
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Mas o pior ainda estava por vir: atrás da cama ambulante vinha outra cama, essa completamente vazia. Pois bem: quando vi a arrumação gritei ao meu amigo e Pancrácio fez sinal a sua equipagam, que parou. Quis saber do que se tratava e ele fez um sinal. Isto posto, uma grandiosa cadeira, tipo um trono, apareceu como que por encanto, também levada por quarenta homens. Nela fui sentado e a louca procissão seguiu em frente. 

Gente de todo tipo nos olhava. Perguntei novamente a Pancrácio o que era aquilo e ele me explicou: estava ali em cortejo e se dirigia à Fortaleza dos Reis Magos a fim de pegar um avião para ir a Brasília, deixar um grande amigo seu que tomaria posse como senador. Tratava-se de um suplente que assumiria a vaga, por morte, do ocupante original. Onde está o suplente?, indaguei. Está ali, na cama que nos segue. Olhei só para confirmar e vi a cama vazia. 


Mas Pancrácio insistiu: o suplente de senador está ali e vai tomar posse. Deixei de lado por um momento essa questão do suplente e questionei: Mas a Fortaleza não é aeroporto. Como vai pousar um avião lá? 

Explicou Pancrácio: Não vão destruir o Machadão? Confirmei: Vão sim.

Pois bem, disse ele: ficaremos na Fortaleza para onde toda a metralha será levada. O Forte será todo coberto com a metralha e será um campo de aviação. Uma mente privilegiada descobriu que o Forte ou Fortaleza, como queira, é muito velho e não presta para nada. Assim, para algo servirá.


Mas vocês vão esperar até que o Forte seja coberto? A destruição do Machadão nem começou... 

Rebateu Pancrácio: Problema não: será construído um hotel onde nos hospedaremos até que a grande obra de destruição do Machadão esteja completa.

Mas, "nós quem", meu amigo? 

Disse Pancrácio: Naquela cama, colega, está um elogiável e digno ser. Ali está um micróbio. Por isso você não o vê. Mas ele foi eleito suplente de senador. Como é o micróbio da peste-negra é um homem de arroubos. Assim, não suportou a espera e infectou o senador. Pronto: o idiota morreu. Com a morte daquele, o micróbio tornou-se o legítimo dono do cargo. 

E o que fará um micróbio no Senado?, quis saber.


Grandes coisas, meu amigo. Grandes coisas. Fará leis que protegerão os micróbios, impedindo que os laboratórios fabriquem remédios ou vacinas. Os antibióticos serão banidos de todo o território nacional, haverá grande morticínio, peste e doenças de todo o tipo. Isso incentivará a criação de funerárias e muitos concursos para coveiros e isso é muito bom. Fará, da mesma forma, leis que vão equiparar os senadores corruptos aos micróbios e eles serão realmente intocáveis. 


Mas, Pancrácio, você acha isso bom? Um micróbio no Senado?


Meu caro, não se espante. Há mais micróbios no Senado do que sonha nossa vã filosofia. 


Eu desci da cadeira ambulante e Pancrácio seguiu em direção ao Forte. Dizem que, nesses dias, começam a destruir o Machadão.

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