segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010


O samba do crioulo doido também chega ao jornalismo
Emanoel Barreto

Uma das coisas que mais angustiam aos jornalistas é a necessidade imperiosa de ter notícias. É uma espécie de imperativo categórico, mesmo quando o mundo não nos oferece a nossa matéria primas. Pior que isso, ou pelo menos tão ruim quanto isso, é o fato de que, como vivemos da fragmentação do mundo, retirando daqui e dali acontecimentos que por nós sejam tidos como importantes ou interessantes, muitas vezes caímos no samba do crioulo doido.

Explico: já viu a primeira página da Folha aí em cima? Claro. Vamos à análise: como o assunto do momento é o carnaval, a Folha não tem como não dar um fotaço de carnaval na capa. É algo até mesmo ritual, uma reverência que mesmo um jornal que se diz "sério" tem que fazer ao hedonismo nacional.

Agora, veja uma coisa: seu olhar de leitor está treinado, treinado por nós, jornalistas, a ligar imediatamente a foto de destaque como o texto da manchete que lhe vem logo abaixo. E, no caso, o que temos? Apesar do esforço do editor da primeira página e do seu diagramador (ou paginador, como querem os modernos), você tenta fazer o link automaticamente e... o assunto nada tem a haver com carnaval.

É que o jornal viu-se diante de um dilema: como é um jornal "sério", não podia dar toda a capa aos festejos. Assim, à concessão de uma foto dos adoradores de Baco, tinha, também, que manter noticiário voltado para enquadramento mais ajustado ao dia a dia do jornal.

Haveria saída mais inteligente, dividindo o noditiciário? Haveria. Muitas. Mas o fato é que editor e diagramador falharam e você, até mesmo eu, quando buscamos o texto de carnaval abaixo da foto encontramos algo bem diverso. Tudo bem: é o samba do crioulo doido, mexendo até mesmo com as manchetes do cotidiano.


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