quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

http://ojornalista.com/blog/wp-content/uploads/2009/03/jornalismo1.jpg
O jornalismo traiçoeiro
Emanoel Barreto

Vejo no JB:  RIO - Com o enredo "Do paraíso de Deus ao paraíso da loucura, cada um sabe o que procura", o desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel, escola que abriu o segundo dia de desfiles do Grupo Especial, emocionou o prefeito Eduardo Paes.

- Foi um desfile emocionante, a escola já entrou empolgando. O refrão do samba é muito bom. Fiquei muito feliz com tanta garra, a Mocidade voltou ao Grupo Especial merecidamente – afirmou o prefeito, que cantou o samba da escola junto com os componentes das alas.

Paes assistiu ao desfile da Mocidade desde o início. Saudou a Comissão de Frente, os integrantes das alas, reverenciou o casal de mestra-sala e porta-bandeira e fez questão de beijar o pavilhão da escola. No recuo da bateria, tocou chocalho no meio dos ritmistas e cumprimentou a cantora Elza Soares, que desfilou como madrinha da bateria.


Sobre o desfile de domingo, Eduardo Paes disse que ficou entusiasmado com a Unidos da Tijuca.
- Minha opinião é igual à da maioria das pessoas. A Unidos da Tijuca fez um desfile maravilhoso. O carnavalesco Paulo Barros merece ganhar um Carnaval - ressaltou.

Logo após a passagem da Mocidade, o prefeito disse que há um projeto de ampliação do Sambódromo sendo negociado com a AmBev. Paes informou que essa é mais uma obra visando as Olimpíadas de 2016.
...........

As assessorias de imprensa  chamam de "mídia espontânea" a esse tipo de matéria que você acabou de ler. Ou seja: uma matéria cujo enquadramento mostra positivamente um determinado ator social - um político, por exemplo - sem que tenha havido, por parte de assessoria, qualquer gestão nesse sentido. "Espontaneamente", o jornal faz a matéria que deixa a pessoa pública "bem" na foto. Acontece. É raro, mas acontece.

Isso ocorre quando um determinado fato tem valoração positiva em si, e é tão forte, que o jornal é "obrigado" a noticiar. Ocorre, porém, que, muitas vezes, o jornal, para atender a interesses particulares, normalmente interesses econômicos da empresa jornalística, viabiliza acontecimentos como se fora mídia espontânea.

Parece ser o caso da matéria acima. Nada justifica o destaque dado ao prefeito do Rio pelo JB. São a declaração do óbvio, tentando mostrá-lo como um homem do povo, vibrador, um "carioca autêntico". As palavras são o que em jornalismo é chamado de entrevista ritual: tudo o que o declarante vai dizer faz parte daquilo que Nelson Rodrigues chamava de o óbvio ululante: ou alguém esperava que o prefeito fosse deplorar ou criticar alguma escola? Nem precisa responder.

A atitude do JB é uma forma de desrespeito ao leitor. Uma farsa, um lamentável e (mal) intencionado equívoco jornalístico. Uma vibração vazia, entrincheirada nos interesses cruzados do jornal.

Nenhum comentário: