sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Glauco, na Folha, Edição de hoje
Patifes e pilantras, legítimos produtos da cultura nacional
Emanoel Barreto

O sórdido espétaculo da cena brasiliense leva à mais explícita e ad nauseam constatação de que tipo de política se pratica no Brasil. Um magote de políticos sem qualquer apreço pela ética e até pelo respeito próprio, apoderou-se dessa manifestação estatal que é o governo estadual, fazendo-o coisa própria e privada.

Todavia, o pior, neste contexto, é o seguinte: políticos não vêm do nada, não são largados aqui por alienígenas ou escaparam de alguma prisão especial de onde jamais deveriam ter saído. Não, políticos vêm da sociedade, nascem dos seus valores, de suas práticas, suas licenciosidades e liberdades sórdidas.

Os que exercem mandatos neste país são um retrato exato do nosso povo, do homem cordial de quem já falava Sérgio Buarque em sua magistral obra Raízes do Brasil, 1936. Não a cordialidade bem falante, prestativa, charmosa até, ou bajuladora e interesseira. Não. Cordialidade como uma espécie de estado de espírito que leva nossa sociedade a um estágio tal de informalidade que, chegando ao poder, ou alguma parcela do poder como nas repartições públicas, o indivíduo, a não ser os de caráter forte, pode permitir-se licenças que vão do chegar atrasado ao trabalho até mesmo aos conchavos e pilantragens mais sórdidos.

Está aí o nó górdio: somos uma sociedade de facilitações e tolerâncias. Os escândalos de Brasília, todos sabemos, darão em nada. Talvez alguém fique fora da vida pública por alguns anos e pronto. Esqueceremos que trata-se de um bandido, tão perigoso quando o traficante Elias Maluco, e até votaremos nele de novo se vier a candidatar-se.









Nenhum comentário: