domingo, 9 de maio de 2010

Quando o jornalismo é bem feito
Emanoel Barreto

A reportagem da capa da Revista IstoÉ apresenta a candidata Dilma Rousseff como destaque. Faz tempo não via, ou lia, um jornalismo tão bem feito. Indagações pertinentes cujas respostas dão um retrato de corpo inteiro do ator político Dilma Rousseff. Ou quase: digo isso porque sei que ela, como candidata, dá respostas sob medida, a fim de assegurar a construção do seu capital político.

 Explico: Dilma luta para retirar de si a imagem de gerentona dura, mulher inflexível, imperiosa, arrogante. Pode até nem ser isso, mas sua imagem midiática confere com esse padrão. Por isso, a mudança de hábito no declartório à revista. Leia a matéria e você compreenderá porque. Não quer dizer, contudo, que inexista sinceridade nesse declaratório.

Na IstoÉ, a representação da entrevistada - em foto e texto -, é bem diferente da imagem de Serra em recente capa da Veja. Que também apresentou Dilma, em edição bem anterior, com a figuração de personagem de matéria policial - foto em preto e branco, aspecto soturno.

Com Serra, a capa foi trabalhada para que ele parecesse empático, politicamente atraente, ideologicamente belo. Foi um erro crasso: a face do ex-governador de São Paulo não se presta a reformulação. Não se trata de um efebo e pronto. Nem assumiu a feição de condottiero, se fora essa a intenção. Resultado: trabalho perdido.

Na IstoÉ, ao contrário, respeitou-se a imagem da pessoa entrevistada e dela se obtiveram respostas jornalisticamente aceitáveis. Ou seja: um tipo de assertividade em que o ator declarante repassa ao interlocutor com clareza aquilo que supostamente reflete aquilo que pensa. A objetividade jornalística obteve seu grau relativo de representação linguístico-iconográfica, permanecendo adstrita ao real do qual teve origem. Isso é bom jornalismo.

Um comentário:

lucas disse...

Olá, Barretão!

Sempre preferi a IstoÉ, as últimas edições não me chamaram atenção, as capas foram muito fracas - na maioria falando de saúde - mas dessa vez vou lê-la...