sábado, 8 de maio de 2010

 http://www.astormentas.com/florbela.htm
Lendo Florbela Espanca
Emanoel Barreto

A poesia estranha e bela de Florbela é êxtase, passagem, porta aberta, céu intenso, nuvem que nunca se esvai. Golpe de florete, elegante cinzel leve e preciso. Dela os poemas abaixo.

Languidez

Fecho as pálpebras roxas, quase pretas,



Que poisam sobre duas violetas,


Asas leves cansadas de voar...


 
E a minha boca tem uns beijos mudos...


E as minhas mãos, uns pálidos veludos,


Traçam gestos de sonho pelo ar...

Os versos que te fiz


Deixe dizer-te os lindos versos raros


Que a minha boca tem pra te dizer !


São talhados em mármore de Paros


Cinzelados por mim pra te oferecer.



Tem dolencia de veludo caros,


São como sedas pálidas a arder...


Deixa dizer-te os lindos versos raros


Que foram feitos pra te endoidecer !



Mas, meu Amor, eu não te digo ainda...


Que a boca da mulher é sempre linda


Se dentro guarda um verso que não diz !



Amo-te tanto ! E nunca te beijei...


E nesse beijo, Amor, que eu te não dei


Guardo os versos mais lindos que te fiz.




Beija-mas bem!... Que fantasia louca


Guardar assim, fechados, nestas mãos,


Os beijos que sonhei pra minha boca!...

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