sexta-feira, 14 de maio de 2010

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A mulher que queria me vender um túmulo
Emanoel Barreto

Caminhando hoje pelo Centro ouvi, a meu lado, uma voz de mulher: "O senhor já tem seu túmulo?". A pergunta, inesperada e louca, me fez gelar. Já vivi muitas situações, digamos, estranhas nesses mais de 30 anos de jornalismo - como o caso de um sujeito que quase era linchado na redação da Tribuna do Norte após ser perseguido por multidão enfurecida. Ele havia surrado o pai e tinha corrido das Rocas até o jornal, em busca de abrigo. Depois conto em detalhes.

Mas essa de alguém querer me vender um lugarzinho em cemitério... Mal refeito do susto, a corretora da morte não me deu trégua. Entregou-me um folder e mostrou-me a conveniência de uma atitude "precavida e sábia", dizia ela.

Muito séria, compenetrada em sua soturna missão, continuou dissertando sobre o assunto com tanta e tamanha autoridade que quase pensei em aderir a um de seus planos de financiamento. Dizia que o terreno "era bom e muito bem situado".

Retomando o fôlego e o bom senso disse-lhe que não, que ainda não estava pensando em assunto de tão grande e profunda relevância e, a muito custo, consegui dela me desvencilhar. Apressei o passo, olhei firme para a frente, mas ainda ouvi, enquanto me afastava: "Olhe, se comprar seu túmulo, nós lhe daremos de graça um caixão."

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