segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Maquiavel: a arte da política, a fortuna e a virtù
De como Maquiavel e Sun Tzu podem ensinar a Dona Wilma e aos senadores José Agripino e Garibaldi

Emanoel Barreto

A eleição para senador representará, para aquele ou aquela que não se eleja, ingresso no desafiante limiar de um território de pedregoso ostracismo político ou quase isso. Serão quatro longos anos de hibernação, quando poderá ver esgarçarem-se laços com correligionários, desfazerem-se ligações históricas com amigos até então tidos como fiéis, esquecerem-se raízes comuns, sobrevindo, presumivelmente, perda de influência, esquecimento, abandono até.

Em síntese: sem mandato, sem participação de caráter decisório, sem grupo, isso será igual a estar sem discurso para falar ao povo e em nome dele. E sem discurso nenhum político sobrevive. O discurso advém sempre de uma utopia. E utopias somente as podem ter, na pragmática política, aqueles ou aquelas que estão em alguma trincheira. O contrário é pregar no deserto um grito semeado em vão.

Wilma, Agripino e Garibaldi fazem parte de grupos poderosos e têm igualmente poder em seus respectivos intramuros. Mas o poder, Dâmocles já o sabia, é perigoso. Sua espada está sempre pendendo sobre a cabeça do poderoso. Senão vejamos: os três candidatos ao Senado são líderes máximos de seus respectivos acantonamentos. Uma derrota pode significar grande abalo nessa liderança. Sem mandato, a quem irão liderar?

Veja bem: a liga que une liderados a líder, neste país, é de má qualidade. Na ideologia e na práxis. Assim, nada garante que ao redor do líder permanecerão seus liderados, como os trezentos que ficaram, intrépidos, ao lado de Leônidas nas Termópilas.

Exemplos? Geraldo Melo, ex-governador e ex-senador. Fernando Bezerra, ex-ministro e ex-senador. Ambos depostos do seu capital político ao ser derrotados. Perderam espaço, perderam discurso, mesmo o tendo entre suas competências personalíssimas. Pois o líder somente fala bem quando a sua voz é a voz dos que os acompanham e, especialmente, quando esse líder ecoa a voz dos interesses - muitas vezes legítimos - dos que os acompanham. Quando não mais são seguidos, pela força de um insucesso, esgota-se a força do líder. Torna-se ele um mudo. É que o grande líder ou a grande líder, derrotado ou derrotada perde a aura, o halo de figura pater ou mater perante aqueles a quem supunha seus.

Maquiavel preceituava que o líder, o condottiero, tinha que ter fortuna, como sinônimo de situação política que lhe seja benfazeja por força das circunstâncias, e virtù, a capacidade pessoal, o carisma para lançar-se à grande aventura da política. Reunindo em si as duas causas, poderá promover as consequências de poder pretendidas.

Maquiavel ensinava também: "...os príncipes devem evitar o mais que possam a situação de estar à mercê de outrem." O gênio florentino referia aos aliados de um príncipe, à boa escolha de aliados leais para a hora difícil. Aqui, atrevo-me a traçar um inusitado e paradoxal paralelo: os príncipes, de alguma forma, estão reféns de seus próprios liderados. Pois se o poder perdem, vão-se nessa vertigem os aliados. Isso é típico da pequena política brasileira, onde praticamente não há políticos de causa, mas políticos por profissão. E os praticantes da pequena política logo se bandeiam para o lado do novo senhor. Qualquer novo senhor.

Sun Tzu, o lendário general chinês, clamava: "Lembra-te que defendes não interesses pessoais, mas os do teu país. Tuas virtudes e teus vícios, tuas qualidades e teus defeitos influem igualmente no ânimo daqueles que representas. Teus menores erros têm sempre nefastas consequências. Geralmente, os grandes são irreparáveis e funestos. É difícil sustentar um reino que terás levado à beira da ruína. Depois de destruí-lo, é impossível reerguê-lo. Tampouco se ressuscitam os mortos. "

Essa a mensagem que bem poderia ser levada em consideração pelos três candidatos que cito. Não a mensagem que seus marqueteiros irão elaborar nas câmaras secretas dos publicitários, nas ilhas de edição e nas mentes dos criativos da propaganda. Mas a mensagem essencial, bem intencionada e compromissada com a história. E que aquele ou aquela que perder, mesmo sabendo que poderá apear-se de sua figura de líder, de pater ou mater do povo, perdeu, mas combateu o bom combate. É o que espero. Como cidadão e como jornalista.



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