terça-feira, 19 de maio de 2009

Não é por aí, Vida...
Emanoel Barreto

Fui hoje a sessão solene na Assembléia Legislativa, em homenagem póstuma a meu amigo e de alguma forma mentor Leônidas Ferreira. Médico, político, homem de esquerda, era dotado de uma singularidade: sabia que trabalhar pelo social pode ser feito, mesmo sob governos conservadores. Assim, foi secretário de Saúde e Chefe da Casa Civil do governador José Agripino, realizando excelente trabalho.

Relembro sua figura amena, que deplorava os ódios encravados na alma humana. Dizia: "A gente deve se ligar às pessoas pelo amor. O ódio faz de você escravo de quem você chama de inimigo." Conciliador, tinha sempre uma palavra pacificadora: "Não é por aí: vamos conversar."


Lembro-me ainda de viagem que fizemos a Mossoró. Não fui como jornalista, mas como amigo. Convidou-me e lá nos atiramos de carro até lá. Antes, uma parada em Angicos, onde visitou família do seu antigo conhecimento. A dona da casa, senhora de modos artísticos, tocou-nos algumas valsas num velho e manco piano. Instrumento desafinado, mas, mesmo assim, capaz de nos fazer perceber a linha melódica. Que se perdia, tristemente, no ar morno e solitário da noite do sertão.

Em Mossoró visitamos o ex-governador Tarcísio Maia na Fazenda São João. Tarcísio era uma figura de enigmática serenidade. Recebeu-nos com o afeto que só os grandes senhores sabem dispensar, com gestos ao mesmo tempo efusivos e milimetricamente sóbrios.

Voltamos de avião. Lá de cima víamos o Rio Grande do Norte que ele tanto amava, suas paisagens e belezas. Depois, o tempo nos separou. Ele seguiu sua missão de médico e de político, trabalhando em ações de entidade internacional de saúde, e eu o meu jornalismo e, depois, professor.

E então, de repente, como se se tivessem passados apenas alguns minutos, estou eu na Assembléia, chorando a sua morte nas palavras do deputado Lavoisier Maia, que fez a saudação à sua figura histórica. A saudade mostrou como a vida é rápida. E todo o nosso tempo cabe, ele todo, numa minúscula gota da eternidade.

Não é por aí, Vida: você não devia ter levado Leônidas assim, tão depressa.
...
*Recebi e-mail de um jovem que se identifica como Alexsander, que quer ser jornalista. Pede-me conselhos a respeito da profissão. Amanhã, Alexsander, publicarei sua mensagem e falarei a você a respeito da nossa profissão. (EB)

Nenhum comentário: