quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

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O silêncio dos inocentes ou até que morra uma autoridade
Emanoel Barreto

Há muitos anos, no saudoso semanário Dois Pontos, dirigido pelo jornalista Marcos Aurélio de Sá, foi publicado editorial sob o título "Até que morra uma autoridade". Redigido por Sá, o editorial referia a uma onda crescente de assaltos em Natal, ante a leniência sonolenta das autoridadades. E, afirmava o jornalista, até que alguém da elite fosse alvo da ação dos criminosos, nada seria feito. O título era bastante incisivo.

Uma análise de discurso simples indica: o governo é composto pelas elites. Sendo assim, não mantém vinculação orgânica com esse ser coletivo a quem chamamos de povo, e se e somente se algum de seus iguais, da elite, fosse atingido, haveria uma ação deliberada e permanente contra assaltantes e outros agressores.

Vejo no twitter que assaltantes estão promovendo arrastões em áreas nobres no litoral, onde, exatamente, a elite passa seus dias ociosos de verão, mar, cerveja. Enfim, onde os bem aquinhoados exercitam sua dolce vita. E isso está causando pavor. O mesmo pavor das pessoas ditas comuns que, por exemplo, vivem em Felipe Camarão, e experimentam em seu cotidiano ao conviver com a dor, a morte, a ameaça.

Mas a violência, ao que parece, democratizou-se. Agora, a onda de pavor saltou os muros invisíveis da sociedade de classes e toma literalmente de assalto as mansões festivas das praias. Esperemos que o alastrar da violência demonstre às autoridades que o crime campeia à corda solta. E que todos se sintam também escandalizados com o sofrimento, a dor e o silêncio dos inocentes que formigam nos arrabaldes.


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