domingo, 27 de dezembro de 2009

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Dinarte era adivinhão (final)
Emanoel Barreto

O texto "Dinarte era adivinhão", publicado ontem, começava assim: "Depois dos 60 anos, o homem começa a adivinhar". A frase é do senador Dinarte Mariz, registrada em livro pelo escritor, poeta, advogado e ex-reitor da UFRN Diógenes da Cunha Lima. Está no livro "Solidão, solidões, uma biografia de Dinarte Mariz, publicado em 2002 pela Gráfica do Senado.

Talvez por ter mais de 60 anos quando a proferiu e por acreditar em suas próprias premonições, - o restante deste texto publico amanhã. E, nele, abordo o que dizia o senador a respeito da governadora Wilma como a herdeira do seu legado.

Agora, a parte final do texto:

Talvez por ter mais de 60 anos quando proferiu a frase, e por acreditar em suas próprias fabulações, Seu Dida disse, a respeito de quem seria seu sucessor e legatário político: "Em política não vou ter um sucessor, mas uma sucessora, de saia. " Está à página 116 do livro de Diógenes, que em sua obra vê aí o indicativo de que Dona Wilma seja a fiel depositária da herança dinartista. Ele gravou 13 horas de depoimento com o senador para a realização do texto, mas não indica dias ano ou anos das gravações.

Li o livro em 2003, quando preparava minha dissertação de mestrado, onde analiso a cobertura do Diário de Natal/O Poti a respeito da campanha ao governo do Estado ocorrida um ano antes. A tese foi defendida em 2004.

Nos capítulos que antecedem a fase propriamente analítica do discurso jornalístico, tracei um perfil político de Wilma, estimando que ela seria a terceira força a intervir na política do Estado. Ou seja: aquela líder que romperia com o maniqueísmo de duas correntes familiares em histórico digladio, quando mudavam-se os mandantes sem superação da essência oligárquica.

Afirmo na dissertação que ela não seria, digamos assim, uma terceira força puro sangue (não uso esta expressão na tese, texto eminentemente acadêmico), mas uma terceira força porque remiu-se de suas ligações oligárquicas e formou em torno de si um quadro de seguidores, funcionando sua personaliade como liga das facções.


Para tanto contou com fortuna e virtù, como diria Maquiavel. Fortuna no sentido de contar com a história a seu favor. As conjunturas sociopolíticas a favoreciam. E virtù, por encontrar em si o carisma arrepiante, capaz de despertar os sonhos e os arroubos utópicos das multidões em fúria de democracia e voto.


O livro me foi dado de presenta por Diógenes, dia 13 de junho de 2002 e o li de um só fôlego. Ano seguinte, quando começava a desenvolver a dissertação, chegando à figura de Wilma e à sua possível condição de terceira força, lembrei: "Diógenes falava alguma coisa a respeito dela." Localizei a página. E a afirmativa de Dinarte, colocada pelo meu amigo como destinada a Wilma, ajudou-me a consolidar a suposição.

A rigor, porém, Seu Dida não vaticina que seria ela. Apenas alude a um sucessor de saia. Naquele momento tudo se encaixava em seu perfil e mantive na dissertação Wilma como sucessora de Dinarte.

Agora, passados anos não tantos assim da minha dissertação, e frente à dinâmica da política, caio em uma indagação: "Ao dizer que depois dos 60 o homem começa a adivinhar, afirmando que seu sucessor usaria saia, Seu Dida não estaria querendo na verdade mais confundir que explicar? Não estaria indicando que a mulher, a figura feminina, terá mais e mais participação na vida pública do Estado, sem ser Wilma necessariamente?"

Não tenho resposta a tal pergunta. Mas trago uma nova indagação: a senadora Rosalba Ciarlini é de cepa dinartista, assim como a governadora. Poderia ela ser a diana caçadora antevista pelo velho político seridoense? Não sei. Talvez esteja eu a divagar demais nas teclas monocórdicas do meu computator-piano e fazendo uma fantasia-improviso apenas para deleite do meu leitor de domingo. Mas, não tenho tal intenção, nem brinco com coisa séria.

Alinhavo apenas, em acordes naturais e nenhum tom sustenido, algumas recordações, lembranças amáveis que me chegam de um tempo ainda moço em minhas lembranças. Tempo em que varava noites, madrugadas, manhãs já cansadas de tanto ler e teclar, preparando a minha dissertação.

E encerro, lembrando outra figura de talhe da nossa política: o astuto deputado Majó Theodorico Bezerra, que ensinava: "Em política, não há gratidão nem reconhecimento." E completo: Wilma precisará lutar muito para chegar ao Senado e eleger seu sucessor no governo.

E afinal trago Seu Dida novamente à tona, quando teorizava: "Política é uns empurrando os outros. Político é como piloto de avião: se souber decolar e aterrissar, o resto vai bem..."



Um comentário:

Anônimo disse...

É por isso que digo que o senhor deveria escrever sobre a política. Sempre q o senhor o faz é diferente dos textos que costumo ler.

Bruno Barreto