quarta-feira, 29 de julho de 2009

A desgraça ou coisa parecida
Emanoel Barreto

A Globo anuncia mais um reality show, No Limite. Todos essses espetáculos cumprem um esquema básico: pessoas agrupadas para disputar dinheiro, numa espécie de representação da vida fora do show, onde é preciso lutar pela sobrevivência cotidiana. Só que ali, no teatro montado para a ação, o que se processa é uma sequência de conflitos, onde o ser humano se expõe e se dispõe a humilhações, angústias e degradações. Perversões, até.

E tudo apresentado como se fora a sagração da capacidade humana de se superar a realizar grandes feitos. É o glamour da indecência. O ritual da indignidade.

As pessoas são constrangidas a superar obstáculos e de alguma forma são seviciadas, abandonam-se às cruéis provas de resistência e asco. Tudo para ganhar um milhão. O número assume condição de coisa fabulosa, inacessível à maioria dos mortais por condições normais de trabalho, e funciona como ímã que torna remidas todas misérias morais a que se submetem os participantes.

Por instantes são alçados à condição de famosos e ao sofrimento se dá um certo charme doloroso, como se fossem heróis ou coisa parecida. Na verdade são desgraçados ou coisa parecida. E o show, no limite, comprova que a desonra tornou-se valor ou coisa parecida.

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