segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

COMÍCIO DA SÉ – 25 ANOS
Walter Medeiros* – walterm.nat@terra.com.br

No começo do século passado tudo em São Paulo era mais ou menos metade do Rio de Janeiro. Em 1907, o Rio tinha 522.000 habitantes, enquanto São Paulo tinha 240.000. O Rio detinha 30% das indústrias brasileiras, contra 16% de São Paulo. Eram as oficinas de manufatura de calçados, vestuário, móveis, tintas, fundição e outras, onde trabalhavam operários brasileiros, italianos, portugueses e espanhóis e surgiam as primeiras leis trabalhistas do Brasil. As comemorações dos 445 anos de São Paulo trazem-me fortes lembranças de minhas rápidas, porém marcantes viagens àquela metrópole, uma delas em 1984.

Um frio de doze graus cobria Campos do Jordão naquela manhã. Era 25 de janeiro. Aniversário da capital, São Paulo. Um dia histórico, pois nele os brasileiros depositavam as esperanças de um deslanchar na campanha pelas eleições diretas. Depois do café da manhã seguimos, eu e companheiros de um curso, todos a pé para uma praça onde estavam estacionados os ônibus que a Prefeitura pusera à disposição da população a fim de participarem do Comício da Praça da Sé. Um dos ônibus fora reservado completamente para nós.

Descemos lentamente a Serra da Mantiqueira, observando aqueles precipícios de 1.750 metros de altura. Somente no trajeto já gastamos uma cota de coragem. O ônibus parou na Estação Tiradentes, de onde todos teriam que seguir de metrô para o novo destino. O grupo ia todo junto. Ao desembarcar na Praça da Sé, começamos a esquentar as gargantas, o sangue e o entusiasmo, com as palavras de ordem do dia. Era um sentimento de que a multidão era superior. Como dizia uma música da época: “A multidão é Deus”.

Sentíamo-nos fortes e começávamos propagando a conclamação: “Um, dois, três, quatro, cinco, mil, viva o Partido Comunista do Brasil”. Era um forte grito em coro, que ecoava em toda a estação do metrô. Aproximando-nos do Marco Zero, mudamos, para acompanhar a multidão, que gritava outra palavra de ordem: “Agora, já, fora Figueiredo e o regime militar”. Eram momentos de muita emoção. Um dia inteiro de atividade. Discursos, panfletos, bottons, convencimento, amor à causa do povo.

A Folha de S. Paulo disse que ali estavam trezentas mil pessoas. Houve jornal que falou em meio milhão. Em todos estavam lá fotos aéreas das torres da Catedral da Sé e a multidão embaixo ocupando toda a praça e ruas adjacentes. Olhamos e lemos no dia seguinte, orgulhosos de termos contribuído com a nossa parte para aquele cenário inesquecível. Depois veio a frustração da rejeição da Emenda Dante de Oliveira, porém seguida da eleição de Tancredo Neves e da Constituinte, da democracia, dos erros e acertos e dos sonhos que continuam sendo sonhados. E viva São Paulo!
*Jornalista – Natal/RN

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