Emanoel Barreto
A Globo já tascou na tela uma mulata seminua para anunciar que o Carnaval vem aí. As coisas de jornal já gritam em notinhas que a festança nesses dias vai começar. Escolas de samba ensaiam, haja samba e tamborim.
Sinceramente, tenho dificuldade para entender o nosso povo. Mas, intimamente o aplaudo. De onde vem tanta vontade, tanta ganância pelo pagode, o remelexo, o requebro, a cadência doida de sexo que enfeita o carnaval? Por que a bebedeira, a bagunça, a festa-de-arromba? O que se comemora? Do que se tanto ri?
Será que ninguém percebe como são dolorosas, bisonhas, cinzentas e cabisbaixas as quartas-feiras-de-cinzas? E depois o dia-a-dia, a prestação da geladeira, a conta de luz, o prato com medo de ficar vazio. Por que, então, a grande festa? A resposta não está no moralismo, se alguém por acaso está pensando que sou seu defensor.
A resposta também não virá flutuando no vento, como diz a canção de Bob Dylan. A resposta vem de longe, perde-se nas estradas vicinais da constituição do nosso povo, vira a esquina das nossas tragédias históricas, pega a reta da poderosa miscigenação étnica e cultural, até repicar no tamborim, escorrer no suor que banha o quadril da mulata e explodir no grito-mestre do puxador-de-samba: "Olha o carnaval aí, gente!"
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