sexta-feira, 4 de abril de 2008

Eis aqui o cordeiro imolado

Caros Amigos,
A curta e afinal trágica vida da menina Isabella é exemplo gritante, emocionalmente ensurdecedor, de como é frágil a existência humana, especialmente quando se trata de um ser indefeso e esplendorosamente inocente. Não quero questionar quem foi ou foram os criminosos. Isso será apurado pela polícia e depois as coisas de jornal vão noticiar.

Quero apenas expressar e compartilhar perplexidade, estranhamento e luto pela forma cruel, bárbara e perversamente requintada como foi morta. Que tipo de mente produziu tão deplorável brutalidade? É meia noite, quando redijo esta nota. A humanidade vem perpetrando, ao longo de séculos de horror, seus atos de martírio, trucidamento, dor; imposições de iniqüidades inscritas em códigos sangrentos e gestos de malignidade tão grande que superam o imaginário humano.

A grande noite do mal, que habita o coração dos homens inclementes, é eterna como o tempo em situação estática: ela, essa noite de brumas e de trevas, não "existe": ela, simplesmente, é. E, naquele apartamento, naquele microcosmo onde se deu a tragédia, o derramamento daquele sangue inocente e frágil, é prova de que a rudeza da alma dos degenerados, somente se contenta quando ceva seus instintos sobre a singeleza do belo.

Com toda a certeza, a respeito da menina Isabella, podemos dizer, à nossa sociedade neurótica e moralmente gelatinosa: eis aqui o cordeiro imolado.
Emanoel Barreto
Foto: reprodução do álbum de família

Um comentário:

insequapavel disse...

Prezado Emanoel:

Foi bom denunciar os desmandos da irresponsável televisão da atualidade, mas temos que nos conformar: são as mazelas da liberdade de imprensa.
Liberdade, sem responsabilidade, se torna libertinagem.
Infelizmente, a democratização de recursos leva à vulgarização dos produtos.
A bem da verdade, o "besteirol" na televisão brasileira não é recente. Houve um tempo em que, mesmo com censura e ditadura, proliferavam produções alienitstas e estupefacientes, como os programas do "Chacrinha" e Sílvio Santos, entre outros, que nada traziam de construtivo, ou que incentivasse a cultura e a criatividade. Era a exposição do ridículo da sociedade brasileira a si própria (e a sociedade ria daquilo). Hoje, só mudaram a linguagem e as gírias, mas a essência é a mesma. Vazia, vadia, inútil.
Fiz bacharelado em Comunicação Social, no CEUB (Brasília - anos de 1981 a 1984), e tive por colegas, no período básico, pessoas que se tornaram conhecidos no jornalismo televisivo nacional, como Deliz (hoje, Délis) Ortiz, Augusto Xavier, e Marcelo Bacharini (estes são os que aparecem na televisão). Tive por mestres o professor e jornalista Luiz Beltrão, o Dr. Esaú de Carvalho, irmão do notável maestro Eleazar, e pai do não menos notável maestro Emilio Cezar de Carvalho, a poetiza e prosadora Adélia Prado, e outros mestres, menos conhecidos, mas igualmente ilustres.
Não fiquei no jornalismo, especializando-me na Publicidade e Propaganda, porque vi, na mentalidade dos jornalistas, principalmente os de televisão, uma dualidade extrema de mentalidades: ou eram alienistas, caçadores de lucro fácil, como os que fazem o que hoje chamam de jornalismo humorístico (deveria se chamar "cronismo do ridículo"), ou excessivamente críticos, impregnados de uma ideologia retrógrada, que já nasceu caduca, e só se preocupavam em "criticar o sistema", sem reconhecer que estavam cada vez mais imersos nele.
Achei muito porca a mentalidade dos jornalistas da atualidade. E a abertura só tem dado mais oportunidade a isso.
Imagino que, se Dante tivesse vivido na nossa era, teria criado, em seu "Inferno", um poço especial para os jornalistas, ainda mais sórdido que o dos bajuladores.
Sei que as palavras (e imagens), apesar de todo o seu poder, são meras criações de seus autores, e que visam apenas a venda de audiência ou de exemplares, e que o escrúpulo não existe no vocabulário dos mantenedores dos jornais (de todos os veículos) brasileiros. Por isso mesmo, não dou importância a nada do que se publica, e só temo pelas ações e reações do público, manipulado a bel-prazer dos poderosos (dos pequenos poderosos, que usam suas câmaras, microfones e computadores como metralhadoras a pulverizar o senso crítico e a consciência da massa).
Em Taiwan, vi uma media muito mais comprometida com o destino de seu país, que se preocupava mais a publicar matérias úteis e construtivas, e pude perceber como aquele pequeno e miserável país se tornou uma das potências econômicas e culturais da atualidade. A própria China Continental, hoje, tem que se render a Taiwan, e procura adaptar o desenvolvimento teconlógico da ilha à sua política socialista, conseguindo grandes resultados. O Brasil, nascido Paraíso, continua com a mesma de mentalidade, e deixa ver que, não importa quantos recursos tenha, o hedonismo e o oportunismo continuam imperando, e acabamos obrigados à comodidade.
É uma grande pena!!!