domingo, 6 de abril de 2008

Goodbye, Ben Hur


Caros Amigos,
Com a morte do ator Charlton Heston, cujo papel mais representativo foi o do príncipe judeu Judá Ben Hur, uma superprodução de 1959 que ainda hoje é referência mundial, vai-se um artista que tinha, para mim, como que uma missão - claro que não era, mas, na minha visão de menino de oito anos, em 1959, era sim: interpretar personagens que encarnavam valores como dignidade, honradez, coragem, honestidade e, acima de tudo, heroicidade. Em El Cid, não foi diferente. Em Planeta dos Macacos, a mesma coisa. Também não se pode esquecer Os dez mandamentos.

Ben Hur é um clássico do cinema épico. E, sendo um épico hollywoodiano, é claramente um trabalho de comunicação de massa em seu sentido mais exato. Mas, apesar de ser obra de comunicação de massa - que em si é despretensiosa e eminentemente comercial -, de alguma maneira saúda a capacidade do ser humano de resistir ante os mais desastrosos, até mesmos trágicos acontecimentos.
Quando vi o filme, ou seja, quando conheci Ben Hur, ele logo tornou-se meu amigo. Como assim também o eram Jerônimo, o Herói do Sertão; os Doze Pares de França; o Zorro; Roy Rogers; os Trezentos de Esparta; os Três Mosqueteiros e o Duque de Caxias. Claro que eu tinha muitos outros amigos, mas não daria para reuni-los todos neste texto.
No meu imaginário infantil, a condição de herói, de defensor dos fracos e oprimidos, fazia-me aliar o Duque de Caxias e Rolando, um dos Doze de França, a personagens de cinema e histórias em quadrinhos. Uma aliança onírica, clara, brilhante; um campo vasto, para grandes campanhas de combate e largas e velozes cavalgadas.
Claro que o menino que eu fui sabia que, uns e outros, estavam divididos pelas suas condições de pessoas e de personagens. Mas suas essências, para mim, significavam muito. Eram a expressão da minha corajosa ingenuidade: o uso da força a favor do Bem.
Mas o tempo passou, meus amigos foram partindo um a um, recolhendo-se aos escaninhos mais distantes de minha memória e ali, de alguma forma, adormecendo. Mas, pensando bem, quem sabe, eles não estão montando guarda e me incentivando a enfrentar desvios e tormentas? Quem sabe?
Mas, a gente vive no mundo, e o mundo é real. E, com a morte de verdade deste velho companheiro de aventuras, tenho de dizer adeus. Hoje, já não mais enfrento bandidos ou legiões. Mas, como o Prisioneiro 41 do filme, o incansável remador Ben Hur, continuo no mesmo compasso, ao ritmo binário que rege todo galé. Goodbye, Ben Hur.
Emanoel Barreto

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