quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Em São Paulo não houve acidente: houve homicídios

A tragédia provocada pela cratera que se abriu em São Paulo, causando dor e perplexidade a todo o País, tem três aspectos jornalísticos a ser destacados, todos negativos: primeiramente, os jornais, o que inclui os telejornais, não estão buscando com o necessário vigor investigativo e editorial-opinativo os responsáveis pelo desastre.

Em seguida, e esse aspecto é eminentemente cruel, brutal e desumano, um fabricante de energético mandou ontem um grupo de moças distribuir o seu produto aos bombeiros para literalmente "dar uma forcinha" aos corajosos e decididos soldados da solidariedade, em sua cansativa tarefa.

No primeiro caso, o jornalismo não está pressionando autoridades, a empresa construtora, engenheiros, fiscais e todos os envolvidos no projeto, a quem se possa, de qualquer forma, atribuir uma parcela de responsabilidade.

Terceiro: o que houve em São Paulo não foi um acidente: houve homicídios no mínimo culposos, pois os responsáveis pela obra agiram com imprudência, imperícia e negligência.Se houvesse cuidado, o que é algo plenamente exigível a uma empreitada de tal porte, o desabamento não teria ocorrido. Insisto: aquelas pessoas não morreram de acidente: foram vítimas de homicídio culposo.

E os jornalistas estão aceitando passivamente o declaratório dos envolvidos, todos repassando culpas e se auto-isentando.


Quanto ao segundo aspecto, o da distribuição do energético, é algo acintoso e imoral. As, digamos assim, demonstradoras do produto, sem qualquer cerimônia apareceram no cenário onde houve os crimes, a fim de promover a marca. O setor de marketing da empresa, sem qualquer pudor, enviou seu material para ganhar exibição de mídia.

Vi isso rapidamente na TV. Não lembro qual o canal. O repórter ainda chegou a ouvir algumas pessoas, que se manifestaram chocadas. Mas, na edição da matéria, o editor teve o "cuidado" de preservar a marca e a encobriu, de forma a que o telespectador não a pudesse identificar.

Objetivamente: a TV, onde certamente o produto faz parte de sua carteira de anunciantes, não iria querer perder dinheiro. Assim, fez-se um pouco de sensacionalismo, mostrou-se uma indignação plastificada, mas, na hora do faturamento, a coisa mudou de figura.

Ao final das contas, quem foi assassinado está morto. Os culpados sairão mais ricos com a obra paulistana e às famílias restarão o sofrimento e a pergunta presa na garganta: "Por quê?"

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