quarta-feira, 15 de agosto de 2007

O repórter parou

Caros Amigos,

E lá se foi Joel Silveira. O homem do texto exímio, o colunista, o contista, o repórter que cobriu a Segunda Guerra para os Diários Associados aos 26 anos, despediu-se da vida no silêncio de uma velhice sofrida, amargando um câncer e desejando morrer.

Quando seguiu para a missão na Itália, partiu com o seguinte incentivo de Assis Chateaubriand: "Você vá, mas não me morra!"

Mesmo levando em consideração que publicou mais de 40 livros e destacou-se como repórter em todo o Brasil, para mim sua fase mais marcante foi mesmo a cobertura da guerra, chegando à Itália em 1944, em pleno inverno.

Suas memórias do front foram inicialmente publicadas sob o título Histórias de Pracinhas, em 1945, reeditadas depois como O Inverno da Guerra. Trata-se de obra tensa, em que se percebe o trabalho do jornalista em campanha, com todos os perigos e brutalidades que isso implica.

Sergipano, nasceu dia 23 de setembro de 1918. Foi para o Rio de Janeiro aos 18 anos e não parou mais, sempre crescendo no jornalismo.

Sobre o conflito disse: "Confesso que não foi exatamente por delicadeza que naqueles nove meses perdi uma parte de minha juventude, ou o que restava dela. A Guerra é nojenta. E o que ela nos tira, quando não nos tira e vida, nunca mais devolve."

Acho que o jornalismo brasileiro vem perdendo, ou já perdeu, os grandes repórteres, os grandes caçadores de notícias, comprometidos com o dever de informar, opinar e interpretar os acontecimentos. Perdeu aquele sabor de aventura, de risco de vida (ou de morte como andam dizendo), de trabalho que ele sabia ser da maior importância.

A morte, no entanto é pior que a guerra. Ela sempre nos tira e vida e nunca mais devolve. Tirou Joel aos poucos, exaurindo suas forças lentamente. Até que o repórter parou.

Emanoel Barreto

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