quinta-feira, 19 de julho de 2007

Os que caminham no nada

Caros Amigos,
Agora que as dores nascidas das chamas do avião de São Paulo começam a se acalmar, e a se transformar em saudade triste, aninhada no peito de quem perdeu amores, nasce em todas as vozes a revolta, a repulsa, o grito: onde estão os responsáveis?

A sociedade está em choque, o brasileiro está pasmo, perplexo com tanto horror. E tudo é culpa da incompetência gerencial, da imprevidência administrativa, da inapetência por um serviço ao público sério e bem feito.

Dizem as coisas de jornal que a pista de Congonhas é cheia de falhas, que não permitem a aderência perfeita dos pneus em dias de chuva. E que falta, ao final da pista, um sistema de frenagem que literalmente prende o avião ao solo em caso de emergência; pois essa parte, feita em concreto poroso, se racha, as rodas afundam, e isso detém a corrida da aeronave.

Agora, esteja certo - eu já estou - virão mil desculpas, inquéritos, declarações as mais escabrosas, acusações sempre rebatidas, e, tenho quase certeza, nada será feito. É parte da nossa cultura: acomodatícia, solerte, um meio tom de cinza, sempre a encobrir culpados e criminosos de toda espécie.

Se a pista tem falhas, como está sendo dito, não houve um acidente, mas homicídios culposos. Todas aquelas pessoas foram assassinadas pelo engenheiro ou engenheiros que projetaram-na imperfeita e pelos que a aprovaram como obra pronta. Mas ninguém será preso, nada se fará. Esteja certo - foi feito algo a respeito da construção do túnel, também em São Paulo, cujas paredes ruíram? Não. Nada aconteceu.

E depois, em meio à solidão escura dos que perderam amigos,esposas, maridos, filhos, gente a quem se queria bem, haverá silêncio grande a soluçar saudades e dizer baixinho que estar só é como caminhar no nada.
Emanoel Barreto

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