quarta-feira, 4 de abril de 2007

O martírio de um homem digno

A boa fama, o passado correto, as posições dignas e corajosas, podem, ironicamente, se transformar em armadilhas que saltam do tempo para prejudicar a vida de alguém, especialmente se esse alguém é uma personalidade de mídia, como o rabino Henry Sobel, encontrado em situação que em nada diz respeito ao que ele realmente é.

O assunto está quase saindo da agenda, mas vale a pena comentar: restou sobejamente esclarecido que ele estava sob efeito de poderosas medicações, que resultaram em transtornos emocionais e comportamentais, cujas conseqüências sociais foram o furto de algumas gratavas de griffe e enorme repercussão no jornalismo.

A grande falha da imprensa, que cobriu o fato como episódio, foi exatamente não fazer referência ao Henry Sobel que sempre se postou a favor de causas humanitárias e enfrentou a ditadura - foi ele quem participou de uma cerimônia ecumênica em São Paulo, quando do sepultamento do jornalista Wladimir Herzog, apresentado pelos seus algozes como suicida. Se o fosse, teria sido sepultado em área apropriada a tanto, já que Wladimir era judeu e os judeus repudiam os suicidas. Sobel o sepultou com todas as honras. Estava aí a sua resposta silenciosa e firme à ditadura. O sistema começou a balançar a partir desse fato.

Ao falar sobre o incidente nos Estados Unidos, disse, em declarações à imprensa, ser impossível "explicar o inexplicável" e que o "Henry Sobel que se estava vendo ali, nao era o "Henry Sobel que todos já conheciam" - referindo-se a seus dramas atuais.

O jornalismo não tem o direito de atormentar um homem de bem quando este passa por uma queda, mas tem a obrigação de exaltar seus passos e feitos, que em muito superam essa queda. Henry Sobel é um exemplo a ser seguido: honrado, digno e justo.

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