sábado, 11 de novembro de 2006

A necessidade da morte

Com a aprovação do Conselho Federal de Medicina e até mesmo com o beneplácito da Igreja Católica, os profissionais do setor já podem praticar a ortotanásia, ou seja: a suspensão de atendimento médico a pacientes hospitalizados e em situação terminal, com autorização da família ou do paciente. Desta forma, o doente seguirá o curso normal da existência, até que a vida se finde - sem a histeria da tentativa de medicamentos heróicos ou a parafernália tecnológica das frias UTIs.

É bem diferente da eutanásia, que é a morte induzida. Uma morte piedosa, é verdade, mas induzida. Tecnicamente, para a lei brasileira, isso é homicídio doloso.

O assunto, ao que parece, não provocou maiores alardes: não houve mobilizações de grupos religiosos bramindo, cenas de choradeiras nos programas de telejornalismo. Afinal, a morte é parte do processo da vida. Do fim da vida, mas, paradoxalmente, a morte é parte da vida. É o fim de um ciclo.

Socialmente, entretanto, a morte é vista como um acontecimento doloroso, uma espécie de acinte divino a um suposto direito de o homem permanecer em sua condição animada para sempre. Em especial quando quem deu o grande salto é jovem ou morreu de alguma forma de acidente.

A ortotanásia não é uma decisão calculista de abandono ou indiferença. É, apenas isso, a compreensão de que alguém, por haver chegado o momento, precisa deixar de existir.

Nenhum comentário: