quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Como Chacrinha, Lula também sabe confundir

A Folha de S. Paulo online publicou a seguinte notícia: "O líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse nesta quinta-feira que, se o Congresso aprovar reajuste de 16,67% para os aposentados do INSS que ganham acima de um salário mínimo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve vetar o aumento. Chinaglia reconheceu que o governo não tem maioria para evitar que o percentual maior seja aprovado e fazer prevalecer sua proposta de conceder 5,01%, por isso a alternativa pode ser o veto."

Acho estranha essa posição do presidente Lula, manifesta através do líder do seu partido na Câmara. O PT, ao longo de sua história, e antes de Lula presidente, dizia lutar por aumento para os trabalhadores, até porque se apresenta como o partido dos trabalhadores.

É aposentado não foi trabalhador? Aposentado foi trabalhador, sim. E trabalhou, certamente em sua expressiva maioria, em condições salariais adversas, ou seja, é gente que passou a vida inteira sob a opressão do salário mínimo. Além de desumana, a ação do presidente é incoerente com a cartilha que o PT defendia.

Disse ainda a Folha, registrando as palavras do deputado: "O reajuste é um tema difícil de se trabalhar. Ninguém se sente à vontade para negar um pleito aos aposentados.Uma parte da base tem dificuldades. Se viermos a perder esta votação ou o Senado corrige ou o presidente tomará a decisão de vetar [o reajuste] como já fez".

Isso, a meu ver, já é um indício bastante veemente do que será o segundo governo Lula. Não vejo justificativa para euforias, expectativas esfuziantes. Nada prenuncia que teremos um período de desenvolvimento em altos percentuais. O tempo será de arrocho e de desencanto. Temo que haverá choro e ranger de dentes.

Veja só o que ainda informa a Folha, na mesma matéria: "Para tentar convencer a oposição a não insistir num aumento maior do que os 5%, Chinaglia disse que os aposentados podem ficar sem reajuste. "Não haverá uma terceira MP sobre o assunto. Neste caso, a assessoria jurídica do Planalto já informou que o presidente só poderá recompor a perda da inflação."

O líder do partido do presidente deixa claro assim que, caso haja deputados ou senadores dispostos a trabalhar em favor do povo, o governo atuará decisivamente no garroteamento do povo, ou pelo menos de uma parcela do povo. Houve claramente uma ameaça.

Lula não levará em conta fatores como as vidas que se desgastaram em trabalhos cansativos, monótonos e sem qualquer perspectiva de ascenção para milhões de homens e mulheres; não levará em conta aqueles que precisavam ir ao médico, mas não tinham dinheiro para pagar planos de saúde; os que não tinham dinheiro para pagar cursinhos para os filhos; os que jamais fizeram uma viagem de férias...

Não; zelará, apenas, pela sua manutenção hegemônica e pelo dinheiro, que negará aos aposentados. Chacrinha dizia: "Não vim para explicar; vim para confundir." E o presidente Lula sabe muito bem confundir. Tanto, que está reeleito.

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