quarta-feira, 5 de abril de 2006

Madrugada

"Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode
ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas."
(Olavo Bilac)

Recebi de Zilda Neves este sinteticamente belo e grandioso texto. Trago para você ler.

Faz frio! Na sala, oito relógios. Todos com horários diferenciados nos segundos.
Duas horas. Tic-Tac, Tic-Tac...

Um pêndulo balança sonoramente.
O cuco canta pausadamente.
A vida também é assim: tem seus minutos e segundos diferentes; assim como os relógios: minutos e segundos alternados...

Observo atentamente. Um está parado. Resolvo acertar as horas. Ando para lá, ando para cá... Paro. Reflito...
Deixo como está. Olho ao redor.
Os móveis no mesmo lugar: a arca; a mesa redonda com quatro cadeiras; a poltrona coberta por uma manta de tecido brocado; um carrinho de chá, em desuso; um pé de máquina, centenário, única recordação de um noivado, em Portugal, de meus pais.

Lembranças de uma vida passada tornam-se objetos de decoração...
Caminho pela sala.

Olho mais atentamente: abajures, pratos de parede em porcelana, uma deusa - peça de origem francesa -, formam contraste com um camiseiro que destoa do ambiente.

Não me agrada. Tento arrastá-lo, voltando-o para o lugar de origem: no quarto.
Volto atrás minha decisão: seria inconseqüente, um transtorno à passagem de uma pessoa debilitada.

Gostaria de não estar aqui, nesse momento. Não posso!
Os minutos passam.
Tic-Tac, Tic-Tac...
O tempo passa.

Estou triste. Não choro...
Estou com fome. Não me alimento...
Estou com frio. Não me agasalho...
Por quê? Porque estou só. Muito só...

Ouço passos na rua: uns apressados, com certeza trabalhadores para o seu dia de rotina; outros, lentos... Talvez namorados, sem pressa de chegar...

Fecho os olhos para uma oração.
Peço paz, tranqüilidade, abnegação e serenidade para o dia que começa,
e a incerteza do momento em que a morte o levará...
Apago as luzes!

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