segunda-feira, 3 de abril de 2006

Jesus mostrado como gay

"O sentido da vida consiste em que não tem
nenhum sentido dizer que a vida não tem sentido."
(Niels Bohr)

O diretor argentino Javier Prato, de 28 anos, está exibindo um clipe em que apresenta a figura de Jesus Cristo como um gay parrudo, debochado e escandaloso, que afronta pessoas e caminha pelas ruas de uma metrópole envergando unicamente um fraldão. Ele entoa a canção I will survive, dublando a cantora Gloria Gaynor, um sucesso e referência musical dos gays. O ator Miguel Mas faz a interpretação de Cristo.

De repente, ao tentar atravessar uma avenida, o Cristo é colhido por um ônibus e literalmente é tragado pelo veículo, sumindo em meio a um grande impacto visual e sonoro.

A produção, que está dando ao seu diretor seus 15 minutos de fama, tem sido encarada ao redor do mundo por pessoas que a consideram como um acinte, um sacrilégio, bem como por aqueles que a entendem apenas como uma jogada de auto-promoção do site do argentino ou simplesmente manifestação de irreverente senso de humor. A imprenssa tem registrado isso.

O título da canção, em português, é Eu sobreviverei, mas o Cristo não sobrevive em meio à metrópole. É tragado por ela, some, desmaterializa-se em meio ao caos. Seria a vitória da "racionalidade" urbanóide em sua lógica bem própria de caos cotidiano, sobre a irracionalidade advinda da religiosidade.

A mensagem pode ter outras leituras, além das visões simplistas de sacrilégio ou humor escrachado.

Inicialmente, tem-se morte do Cristo, enquanto símbolo, ao ser apresentado como uma pessoa desequilibrada, que anda pelas ruas gesticulando louca e vaidosamente, em substituição à imagem ancestralizada de Jesus como um ente de paz, sabedoria, tranquilidade e equilíbrio.

Além disso, a mensagem insinua que, no mundo de hoje, Jesus seria já uma figura/representação desatualizada, incompetente para conviver com o modus vivendi dos tempos de hoje. Não mais preencheria expectativas nem deveria ser tomado como padrão comportamental ético, sendo portanto substituído por uma nova ética do cotidiano das pessoas e suas relações.

O ator mostra um Cristo agressivo, que tromba com as pessoas, choca, apela, agride pelo visual e pelos gestos. Perfeitamente inserido nas sociedades de avançado processo de urbanização, onde imperam a concorrência a qualquer preço e a falta de compostura do ser humano na busca de traçar seu caminho entre os seus iguais.

Houve uma espécie de ato falho do diretor, que, ao investir contra uma figura que encerra uma gama de valores positivos, acaba por desmascarar, sem o querer, que tipo de sociedade está sendo gestada: vazia, centrada na aparência, regida por uma competição desregrada e que segue em frente, sem respeitar quem esteja ao lado ou colocado no meio do caminho.

Vale a aparência, não a essência. A mensagem, além de não contribuir para a luta que os gays desenvolvem em favor de seus direitos civis e de conquistar o respeito social pela sua opção sexual, ajuda a acirrar visões e preconceitos contra eles.

Além do mais, termina por ser um louvor, um hino alienado em favor de um tipo de sociedade em que o simulacro das relações se manifesta até mesmo em pessoas travestidas. Parecem, mas não são; e são o que não parecem, ou seja: não são críticos, são apenas pessoas que seguem uma multidão faminta por momentos exuberantes. Mas esquecendo de que o rio em que se navega é o mesmo que pode afogar.

O endereço do site é:

http://youtube.com/watch?v=Hcp9WsH5TBg







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