"A César, o que é de César;
a Deus, o que é de Deus."
(Jesus Cristo)
A sociedade do espetáculo, que se expandiu e se firmou, especialmente pela consolidação da TV como veículo primordial de visão e divulgação do mundo, trouxe a reboque uma circunstância inesperada: a midiatização religiosa, transformando Jesus Cristo em super star, Nossa Senhora em mito pop e os anjos em ídolos imateriais.
Isso, em se falando de marketing católico, cujo panteão abrange muitas manifestações de fé, respeito e amor por entidades sobrenaturais. Quando se fala de protestantismo, cujos fiéis hoje preferem ser conhecidos pela marca evangélicos, a coisa fica diferente. Admitem o Espírito Santo como integrante do seu elenco de salvadores. Mas as palmas vão, mesmo, para Jesus. É da mercadoria Jesus, da marca Jesus, que advêm seus maiores aportes financeiros.
A Igreja Católica, da mesma forma, também cultua a figura exemplar do Rabi da Galiléia. Mas, alguns de seus segmentos, midiatizados e extremamente profissionalizados, obtêm êxitos financeiros com programas de exaltação, onde Jesus também é mercadoria fina e rentável.
Este texto, que tem, sei disso, uma apresentação efetivamente satírico-crítica, não objetiva criticar a fé, a crença em um ser supremo. Meu objetivo é lamentar a utilização da fé como mercadoria, dentro de um contexto de economia globalizada.
Vão longe os tempos em que, nos púlpitos, católicos ou protestantes, se pregava a palavra da crença com o uso da retórica, com gestos grandiosos e oradores de grande poder de convencimento. Havia, é claro, a atitude teatral, o vigor da palavra, o acendimento da fé mediante o impressionismo. Mas, suponho, existia também sinceridade, o próprio orador imerso em seu discurso.
Hoje, o discurso mesclou-se ao discurso televisivo, com os recursos de edição, cortes, enquadramentos, vinhetas e cenários. A isso deve ser ajuntado o desencantamento das multidões, que se encantam novamente via imagem telemidiática. Há portentosos eventos que são vistos pelos participantes de co-presença, mas que também são vistos em tempo real por pessoas em suas casas. O espetáculo só é espetáculo porque há um público ali presente e esse mesmo público, espetacularizado, é visto por um público não-presente, mas atento, no recôndito do lar, ao que está acontecendo.
Há uma cadeia, uma teia de acontecimentos: o grande espetáculo da vida religiosa, visto por quem também tem um sentimento de pertença àquele grupo, todos numa ação global de louvor. Em verdade, em verdade vos digo: o que vale é a aliança que se forma entre a participação co-presencial e a participação tele-assistencial.
Ao fundo, o pastor e o padre conferem com seus contadores quem pagou ou não.
Suponho que hoje, de alguma forma, ressurge midiaticamente a figura dos vendilhões do templo. Talvez seja chegada a hora de todos, todos eles, serem expulsos do vestíbulo, pois suas oferendas são venais e lucrativas.
César não quer as coisas de Deus. E, Deus, também não quer o que é de César. Os sofrimentos do mundo são muitos. E vender a salvação virou objeto de lucro. Compre um carro novo, compre a TV de tela de plasma, compre também um jeitinho de escapar do purgatório, ou até mesmo do inferno.
Mas se você quer mesmo ser um justo, fique em paz e deixe Deus de fora dessa coisa de dinheiro. Não precisa nem mesmo rezar, ou orar como dizem outros. Seja honesto, digno e honrado. Creio que isso agrada a Deus. Ser bom é ser feliz, como dizia a minha Mãe. Seja bom e afasta-se dos trinta dinheiros.
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