segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Uma crônica da seca

"Bobagem! É andando
que cachorro acha osso."
(João Guimarães Rosa, em Sagarana)

Eles seguem, calados e tristes, o caminho da solidão. Os campos do silêncio são o mapa de todas as dores do sertanejo. A imensidão sofrida da caatinga seca demarca esse país de pobres do campo, cujas fronteiras têm por limite suas almas feitas de incertezas.

Caminhantes da vida, rumando para o nada, eles têm na fome a companheira constante de dias e noites. O sertanejo, sua mulher, seus filhos, trazem no olhar triste o lamento calado de todos aqueles que já não têm mais palavras. Palavras perdidas, lavoura perdida, pasto morto.

Mãos calejadas contam histórias de saudade da chuva. Chão seco se estirando como um tapete de espinhos.Plantadores, eles hoje colhem lamentos. O inverno é só uma lembrança e ninguém, ninguém, poderá dizer quando a água vai voltar.

Eles bebem o gosto sujo do barro na água cavada do chão embrutecido.Terra, tanta terra e nada para esse povo comer.O sertão é como um abismo plano, onde seu povo plantou os grãos amargos da fome, servidos em mesas pobres e vazias.

Nenhum comentário: