"Ave César, os que vão morrer te saúdam."
(Os gladiadores, quando adentravam à arena)
Havia ali, em frente à AABB, no canteiro central da avenida Hermes da Fonseca, uma árvore. Não muito alta, tronco fino, meio caída de lado, ela tivera cortados todos os galhos e retirada do seu corpo vegetal toda a beleza das folhas. Mas aquela árvore, velha e reduzida à condição de feia, insistia em viver. E, aos poucos, dia a dia, fazia renascer os brotos dos galhos, como quem avisava aos humanos que não queria morrer.
De alguma maneira isso chamou minha atenção e passei , todo dia, a observar aquela árvore. Via que os galhinhos recomeçavam o trabalho da natureza, de nascer e crescer. Mas, logo vinha alguém, algum assassino impune, e desbastava novamente a árvore. Que insistia em sua luta pela vida e reverdecia outra vez. E assim seguia aquele combate. Silencioso, estranho, semanal.
Minha expectativa aumentava, toda vez que notava uma nova agressão. Certa vez, até que ela conseguiu: exibia, vistosa, galhos já mais ou menos crescidos, de um verde brilhante e vivo, forte e sincero. Era quase uma emoção, um grito contido de vitória: ela pensava, certamente, em suas entranhas vegetais, que iria renascer.
Animei-me: pronto; agora ela ia mesmo crescer, espalhar seu verde, fazer sombra, alegrar a vista, que é esse o destino das árvores. Até que, um dia, tudo foi cortado, podado, decepado, riscado do mapa sentimental do canteiro da avenida: o assassino havia voltado, certamente à noite, disfarçado de passante, e simplesmente havia derrubado a árvore. Nem mesmo seu tronco indefeso era mais visto. Um vazio ocupava, na minha vista, no meu território da emoção, o seu lugar.
Não sei, mas creio que essa árvore não morreu. Eu acho que essa árvore foi para o céu...
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