segunda-feira, 13 de março de 2023

O direito de ser bandido e

o doce charme das elites

 

Por Emanoel Barreto

 

A violência no Brasil é sistêmica, complexa e, pela forma como se apresenta - organizada e enraizada-, dificilmente será vencida.

Vejamos: é preciso entender que a violência está dentro dos presídios mas mantém firme conexão com os atos criminosos que se dão fora deles, inter-influenciando-se mutuamente.

Além disso, as causas históricas do fenômeno criminal permanecem inalteradas secularmente, num perverso processo de marginalização que leva muitos à prática de delitos como se aquela fosse forma aceitável de viver.

As causas históricas manifestam-se nos baixos salários pagos pela iniciativa privada – e no seu inverso: os segmentos estamentais eternizados em situação privilegiada: régias remunerações contemplam o judiciário, a alta oficialidade das forças armadas, políticos profissionais e setores do funcionalismo público.

Junte-se a tal fato a corrupção perpetrada pelo alto empresariado junto a agentes públicos – agregando-se a isso a sonegação de impostos – e temos a receita social perfeita e o caldo de cultura exato a propiciar o encaminhamento do indivíduo socialmente desvalido ao crime.

Com o Estado aparelhado e tornado meio de vida para os privilegiados, todo o dinheiro que deveria estar ao dispor da sociedade vai parar em poucas contas bancárias. Simplificando: falta dinheiro para as funções sociais da instituição estatal.

E muitos jovens que vivem um cotidiano de privações e fome compreendem-se como membros de alguma forma de sociedade marginal e passam a vivenciá-la. Entendem-se como se tivessem o “direito” de ser criminosos.

Ou seja: nas favelas e arrabaldes esse tipo de pensamento passa a ser compartilhado, torna-se um valor, uma espécie de crença, uma maneira de experienciar a existência e uma forma de ser no mundo.

Então, imbuído de tais princípios, o indivíduo passa a cometer atrocidades com grande desenvoltura e sem qualquer senso de culpa. Torna-se convicto. Mata e agride com a mesma naturalidade que um trabalhador ergue uma parede ou pega um ônibus de volta à casa. É o “direito” de ser criminoso.

Entre os criminosos e os privilegiados há um abismo profundo. As elites não estão dispostas a ceder seus privilégios; os bandidos reagem e buscam espaço. E  o resultado é o que temos: presídios explodindo, o terror batendo à sua porta. Mas as elites, protegidas, sabem o que são: as elites protegidas.

O Estado não tem como garantir ao trabalhador integridade física, bem-estar, sossego, tranquilidade, saúde, educação, cultura, transporte, dignidade.

Também não consegue ser eficaz na busca de levar adiante ações repressivo-preventivas para enfrentar aqueles que estão no caminho do crime, ofendendo os que trabalham.

E chegamos ao atual ponto: uma situação insustentável, especialmente pelo fato de que os criminosos já vivem seu sentimento de pertença a um grupo e entendem a sociedade como sua presa legítima.

Caso não haja uma profunda revisão de valores, caso os dinheiros públicos não venham a ter devida aplicação ;e mantendo-se – como serão mantidos– os privilégios e a corrupção, a tendência do quadro é de constante agravamento.

O “direito de ser criminoso” crescerá, e os bandidos, identitários e armados, continuarão a disseminar a violência e a morte. E as elites continuarão em seus castelos, protegidas e felizes.

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