O dia em que Natal virou Kiev
Por Emanoel
Barreto
Natal
deixou de ser a Noiva do Sol, como a chamava o escritor Luís da Câmara Cascudo, e hoje já a podemos chamar de Kiev. A luz do sol, intensa e bela, é substituída à
noite pelo clarão dos incêndios, pelo terror, pela destruição, desordem e uma aparente
inexistência de ação tático-preventiva da polícia para impedir o descalabro.
A ação
dos bandidos, segundo diz o noticiário, é uma resposta das quadrilhas a um recente trabalho de captura de criminosos pelas autoridades visando a desarticulação do poderio de suas
facções nos presídios. Além disso, os detentos alegam maus tratos e
péssimas condições carcerárias. Juntanto as duas coisas veio o barril de pólvora que agora explodiu.
Mas a questão,
neste texto, é que faltou prever-se a reação dos bandidos. E agora vivemos o medo que se alastrou por todo o estado com a
rapidez de uma labareda. Caso houvesse ação preventiva seria possível impedir a ocorrência dos incêndios a ônibus e até mesmo o monstruoso incêndio a um depósito de medicamentos em São Gonçalo do Amarante, um prejuízo de dez milhões de reais.
Os bandidos,
em sua suposta ânsia de garantir direitos humanos básicos, expõem sua face mais
dura e brutal. Voltam-se contra pessoas indefesas e prejudicam, no caso do
depósito incendiado, aqueles que precisam de medicamentos e não os podem
comprar.
Diante disso,
podemos supor que a principal necessidade, o núcleo duro dos atos de agressão, que
transfiguraram Natal em uma Kiev, seja acima de tudo manter a força e a presença do
crime organizado dentro e fora dos presídios. Tais organizações tenebrosas, em seu
arcabouço essencial, operam uma estrutura de disciplina e hierarquia ao mesmo
tempo que criam em seus membros um sentimento de pertença.
Os componentes
das facções são “irmãos” entre si, têm fictícios laços de afetividade familiar.
Isso cria sensação de ordem interna e solidariedade, respeito e desgraçada honorabilidade
entre pares.
O resultado
dessa forma de agir e de pensar caricaturou Natal numa Kiev tropical, com suas ruas
percorridas com desenvoltura por tipos que atacam de forma inesperada e
fogem. São como fantasmas que brotam de algum lugar, trazem terror e
desespero e escapam, como por artes de algum lamentável encanto.
O
noticiário fala num esforço das polícias em ação coordenada. Esperemos que isso venha a se concretizar em
medidas eficazes. Caso contrário, Kiev, quero dizer Natal, estará enfrentando
esse exército de algozes sem saber quando isso irá acabar. A Ucrânia, quero
dizer, o Rio Grande do Norte, precisa vencer essa batalha.
Não podemos
ficar nas mãos de quem quer transformar nossa cidade num inferno. Queremos de volta a
Noiva do Sol.
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