O pão sempre amargo do diabo enche a boca de muitos brasileiros
Por Emanoel Barreto
Há algo de patético e deplorável,
porque o patético é o trágico ridículo, nos grupos que se engancham aos portões
de quartéis pedindo um golpe de Estado. A mirrada litania vem se alongando, e
seus irrelevantes atores, forrados por alimentação que aparece sei lá como, se
prestam a ficar sob sol e chuva suplicando por um regime de força, que com
certeza lhes tiraria até mesmo os mais limitados direitos, sociais e trabalhistas.
Pobre povo o nosso, quando
pessoas, por notória necessidade, se sujeitam a papel tão lamentável. O Brasil,
com suas distorções sociais gravíssimas, suas injustiças estruturais, seu
capitalismo dependente, está distribuindo pobreza e miséria e fazendo surgir o
protesto dos que pedem o fracasso da democracia e estendem a mão faminta a esse
óbolo estranho e desprezível.
Há investigações a respeito de
quem financia tais movimentos, e tanto mandantes quando seus servos sabem que a
nada chegarão. Lamentável o povo que implora pela chibata e busca curvar-se
mais e ainda mais, desde que lhe chegue às mãos os miseráveis trinta dinheiros da
sordidez dos que usam pessoas carentes para encenar protesto patriótico.
Cuidado com os que clamam pela
Pátria e urdem planos trevosos; no fundo, desejam mesmo que tal conceito e
realidade socialmente construída sejam, no máximo, um ornamento de oratória,
uma desculpa para nos atirar ao escárnio da História, pagando aos famintos os
honorários vis do descalabro, da dor, do desespero. Sem democracia haveria a corrente
presa ao pescoço do povo – pois essa é o objetivo final de qualquer ditadura.
E o povo, pobre povo,
desempregado, subempregado, desesperado em busca de um naco de pão ou um gole
de café, surge na figura dos que se prestam a saciar a fome de força dos poderosos
e aceitam a remuneração estropiada – vergonha.
Por suposto, tais atos não chegarão
ao objetivo pretendido; por suposto os lamentáveis farsantes e soldo de patrões
invisíveis, logo estarão em suas casas, nos arrabaldes para onde foram atirados
pelo sistema injusto, cruel e ominoso.
Esperancemos que venham novos
tempos; e as pessoas não precisem denegrir-se a troco de uma moeda, uma quentinha,
um pedaço qualquer de qualquer coisa.
É isso: o Brasil não pode continuar
a ser um pedaço qualquer de qualquer coisa. Não se pode servir ao povo o pão
torpe que diabos ocultos amassaram.
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