BRASÍLIA
O presidente Jair Bolsonaro decidiu que
continuará em Brasília após deixar o governo e deverá morar em uma casa bancada
por seu partido, o PL, do qual será presidente de honra.
Integrantes do PL disseram reservadamente que a
intenção do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, é pagar a Bolsonaro um salário equivalente ao teto constitucional do
setor público, que hoje está em R$ 39,2 mil.
Dessa forma, a previsão é que Bolsonaro tenha uma
renda mensal próxima de R$ 85 mil a partir de 2023. Isso porque ele também tem
direito a aposentadorias de militar (R$ 11.945,49) e de deputado federal, no
valor de R$ 33.763.
Bolsonaro é como Chacrinha: não
veio para explicar, veio para confundir
Por Emanoel Barreto
O texto acima, que copiei e colei,
é de Marianna Holanda e Mateus Teixeira, da Folha. À simples leitura já dá para
perceber que o tipo mencionado, futuro ex-presidente, vai ganhar uma renda polpuda
para... fazer nada. Ou seja: Bolsonaro, que geme de preguiça, vai ganhar R$ 85
mil para ficar em casa fazendo de conta que está liderando o PL, do qual na
verdade será unicamente um fâmulo.
Tenho alguma dificuldade em
aceitar, pelo menos aceitar por completo, que ele vá liderar o partido na
prática. A bancada do PL é formada por profissionais do carteado político, e
nesse pôquer eles sabem ganhar sem Bolsonaro, seja blefando ou não. Certamente não
vão precisar de alguém que somente sabe atuar via redes sociais para fazer
divulgações aloucadas e divagações sem nexo com a realidade – vide as suspeitas
lançadas sobre a confiabilidade das urnas do TSE.
Entendo ser improvável que ele
venha a ser consultado pela bancada a respeito de grandes decisões, chamado a
reuniões de peso ou qualquer conciliábulo partidário. Creio que seu uso deverá
ser mesmo o do sujeito que vai bater lata, fazer barulho e trabalhar a confusão
entre realidade e o alucinatório político que tão bem conhece, em vez de liderar,
comandar, alertar, incentivar, ou seja lá o que for que se possa esperar de um líder,
líder na essência da palavra.
Falta-lhe um telos, um
objetivo histórico para o país, inexiste-lhe uma utopia, salvo se por utopia
entendermos a defesa de um conservadorismo tacanho, a busca de aperfeiçoar a
mediocridade, o empenho em estimular o barbarismo cortante de muitos dos seus
seguidores.
Suspeito que ele acredite sinceramente
que seja possível aperfeiçoar a decadência, aprimorar o descalabro, requintar a
desgraça, tornar cálida e deliciosa a pobreza, bela a miséria, desejável a
hecatombe. Suspeito mesmo.
Já tivemos na TV uma figura
carismática e poderosa: Abelardo Barbosa. Você conhece: Chacrinha. Ele costumava
dizer: “Não vim para explicar; eu vim para confundir.” A figura a respeito de
quem aqui venho escrevendo segue o mesmo padrão. Só que sua confusão é bruta,
traz discórdia e balbúrdia, berreiro e alarido, transforma o país numa estranha
catedral da celeuma e violência.
A confusão chacriniana, quero
crer, voltava-se mais para alguma forma difusa de crítica à realidade nacional;
naquela em que ele também se imiscuía, fazendo parte do balacobaco bem
brasileiro que sofre e samba; passa mal, mas festeja; tem dívidas, mas não lhe
falta a cerveja do boteco; não tem escola para o filho, mas faz da escola de
samba zona de escape aos seus problemas e dores.
A alegria de Chacrinha em sua
Discoteca televisiva era parte da evasão a essas dores. O telespectador
confundia, naquela fugitiva alegria, a angústia de ver seu salário-mínimo
escorrer pelo ralo, acabar no outro dia, enquanto ele ia esperar o próximo
carnaval.
Bolsonaro talvez esteja querendo
confundir para voltar a ser o que – ele sabe –, jamais foi de verdade: ele
nunca foi presidente embora tenha sido eleito e empossado. Ele veio apenas para
confundir. E fez isso muito bem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário