sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

 BRASÍLIA

presidente Jair Bolsonaro decidiu que continuará em Brasília após deixar o governo e deverá morar em uma casa bancada por seu partido, o PL, do qual será presidente de honra.

Integrantes do PL disseram reservadamente que a intenção do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, é pagar a Bolsonaro um salário equivalente ao teto constitucional do setor público, que hoje está em R$ 39,2 mil.

Dessa forma, a previsão é que Bolsonaro tenha uma renda mensal próxima de R$ 85 mil a partir de 2023. Isso porque ele também tem direito a aposentadorias de militar (R$ 11.945,49) e de deputado federal, no valor de R$ 33.763.

Bolsonaro é como Chacrinha: não veio para explicar, veio para confundir

Por Emanoel Barreto

O texto acima, que copiei e colei, é de Marianna Holanda e Mateus Teixeira, da Folha. À simples leitura já dá para perceber que o tipo mencionado, futuro ex-presidente, vai ganhar uma renda polpuda para... fazer nada. Ou seja: Bolsonaro, que geme de preguiça, vai ganhar R$ 85 mil para ficar em casa fazendo de conta que está liderando o PL, do qual na verdade será unicamente um fâmulo.

Tenho alguma dificuldade em aceitar, pelo menos aceitar por completo, que ele vá liderar o partido na prática. A bancada do PL é formada por profissionais do carteado político, e nesse pôquer eles sabem ganhar sem Bolsonaro, seja blefando ou não. Certamente não vão precisar de alguém que somente sabe atuar via redes sociais para fazer divulgações aloucadas e divagações sem nexo com a realidade – vide as suspeitas lançadas sobre a confiabilidade das urnas do TSE.

Entendo ser improvável que ele venha a ser consultado pela bancada a respeito de grandes decisões, chamado a reuniões de peso ou qualquer conciliábulo partidário. Creio que seu uso deverá ser mesmo o do sujeito que vai bater lata, fazer barulho e trabalhar a confusão entre realidade e o alucinatório político que tão bem conhece, em vez de liderar, comandar, alertar, incentivar, ou seja lá o que for que se possa esperar de um líder, líder na essência da palavra.

Falta-lhe um telos, um objetivo histórico para o país, inexiste-lhe uma utopia, salvo se por utopia entendermos a defesa de um conservadorismo tacanho, a busca de aperfeiçoar a mediocridade, o empenho em estimular o barbarismo cortante de muitos dos seus seguidores.

Suspeito que ele acredite sinceramente que seja possível aperfeiçoar a decadência, aprimorar o descalabro, requintar a desgraça, tornar cálida e deliciosa a pobreza, bela a miséria, desejável a hecatombe. Suspeito mesmo.

Já tivemos na TV uma figura carismática e poderosa: Abelardo Barbosa. Você conhece: Chacrinha. Ele costumava dizer: “Não vim para explicar; eu vim para confundir.” A figura a respeito de quem aqui venho escrevendo segue o mesmo padrão. Só que sua confusão é bruta, traz discórdia e balbúrdia, berreiro e alarido, transforma o país numa estranha catedral da celeuma e violência.

A confusão chacriniana, quero crer, voltava-se mais para alguma forma difusa de crítica à realidade nacional; naquela em que ele também se imiscuía, fazendo parte do balacobaco bem brasileiro que sofre e samba; passa mal, mas festeja; tem dívidas, mas não lhe falta a cerveja do boteco; não tem escola para o filho, mas faz da escola de samba zona de escape aos seus problemas e dores.

A alegria de Chacrinha em sua Discoteca televisiva era parte da evasão a essas dores. O telespectador confundia, naquela fugitiva alegria, a angústia de ver seu salário-mínimo escorrer pelo ralo, acabar no outro dia, enquanto ele ia esperar o próximo carnaval.

Bolsonaro talvez esteja querendo confundir para voltar a ser o que – ele sabe –, jamais foi de verdade: ele nunca foi presidente embora tenha sido eleito e empossado. Ele veio apenas para confundir. E fez isso muito bem.

 

   

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