Os monstros não têm medo
Por Emanoel Barreto
É verdade, os monstros não têm medo. Os monstros são arrogantes, atrevidos, insolentes, brutais, descarados; afrontam a tudo e a todos desde que satisfaçam os seus mais baixos instintos: no caso, desacreditar a ciência, estimular a estupidez das festas e aglomerações, brindar enquanto tantos morrem. A pandemia tem mostrado o quanto os monstros são tudo isso: de ruim e de pior.
Há, contudo, um aspecto a salientar: se os monstros não têm medo não significa que tenham coragem. Insolência não é coragem; estupidez não é bravura; desrespeito não é brio; barbaridade distancia-se de atitude resoluta; ofensa nada tem a haver com a serenidade firme da pessoa digna.
Explica-se: o monstro, a besta humana, não tendo medo de agredir não o faz por ser valoroso, mas por ser apenas monstro.
Mesquinho, brande seus desvarios e zomba do sofrimento de milhares; baixo, apequena-se mais ainda com a sórdida alegria de gritar de alegria. Como Neymar, que realiza um festim lamentável reunindo quinhentas pessoas.
Mais um exemplo: a brutalidade bolsonariana estagnou a vacinação e até hoje vivemos um limbo e uma pergunta: quando, quando as pessoas começarão a ser vacinadas? No Brasil, ninguém sabe.
O pior é que muitos já foram contaminados pela monstruosidade e estão se preparando para o réveillon. É uma espécie de comemoração de Nero, que tocava harpa e bebia enquanto Roma ardia em meio às chamas que ele mesmo havia provocado.
O monstro não tem medo porque em seu lugar tem ferocidade. E tem ferocidade porque se julga invencível, blindado, intocável. Na verdade, é apenas um ignorante, alguém tosco e perverso.
Vêm aí as festas finais do ano e depois delas chegarão as dores e os desesperos de muitos – dos que foram às dionisíacas comemorações despidos de qualquer senso de dignidade e dos que de alguma forma serão por eles contaminados.
Os monstros não têm medo pois já estão na lama até o pescoço. Os demais devem continuar deles distantes, evitando a sua baba. Vade retro.
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