Como é difícil conviver com o próprio silêncio
Por Emanoel Barreto
A incapacidade de convivência consigo
próprio, a experienciação de um momento interativo interno e tranquilo ou o compartilhamento
de instantes com familiares em regime de isolamento durante a pandemia tem
levado à formação de multidões de pessoas desesperadas; todas em busca de uma alegria
passageira que muitas vezes resulta numa espécie de caminho para os umbrais do coronavírus.
Em épocas já passadas a sensação de
passagem do tempo sugeria uma certa lentidão na vivência diária. Ficar em casa
era o comum, o normal de então. Hoje, com a velocidade imposta pelo estilo de
vida pautado na pressa, na ultra velocidade da informação, na comunicação instantaneizada,
criou-se a percepção de que é preciso agir, ou seja: fazer, fazer algo,
fazer algo como estar num shopping center fazendo... nada.
É essa ilusão, essa manipulação da
sociedade de mercado que tem colocado na agenda interna das pessoas a
necessidade – falsificada – de sair, vale dizer fugir de pensar, ler um
livro, conversar pausadamente, viver momentos de tranquilidade na aragem de uma
tarde boa e mansa.
Em função disso, quando a
situação exige que se tenha cautela, respeito por si e pelos outros, pela saúde
de todos, o que inclui a mim e a você, surgem acontecimentos disruptivos como os
que ocorreram em Ponta Negra há dias e, mais recentemente, em Pipa.
Pessoas vazias de si buscando bares
e uma festança tocada a música eletrônica como que num protesto e insatisfação contra
sua própria segurança já que essa segurança estava condicionada a um
desconfortável ficar em casa, recolher-se proteger-se. Sendo assim, dane-se a segurança.
O estranhamento de si, o distanciamento
de si ocorre em pessoas que diante desse estranhamento – o fato de estar em
casa – encaram essa situação como “estar presa em casa” em vez de “estou a
salvo em casa.”
Junte-se esse tipo de pensamento às
atitudes de muitas autoridades, que querem servir aos comerciantes abrindo o
comércio e temos a mistura perfeita para que o coronavírus continue a se
disseminar.
A desgraça banalizou-se, mas
ainda há muitos que não querem ver – e quando veem já muito tarde.
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