Delator premiado: o bandido
que sempre leva tudo
Somos um país de festa política, onde mascarados
ricos caminham pelos corredores secretos de Brasília, trocam favores de última
hora na Justiça e esperam que, num passe de mágica, alguém, quem sabe um louco,
talvez um sábio trapaceiro consiga desatar os nós entrelaçados da Lava Jato e
trazer paz aos farsantes. É tudo o que eles desejam.
“Eles” são os delatores
premiados. Tipos espertos, sabem do baralho.
Somos o país do carnaval e logo virá uma nova
festa. Pouco a pouco e vida política vai voltar ao normal, ou seja: as
manchetes anunciarão o começo da campanha eleitoral, a tal nova festa.
E os delatores, que
começam a ser esquecidos, ganharão o prêmio: seus trinta dinheiros são, por
exemplo, recolher-se às suas mansões, pagar a perder de vista o que roubaram à nação
e, enfim, ficar tranquilos e calmos; quem sabe aproveitando férias
intermináveis.
Detalhe: nada garante que
pagarão o que roubaram.
Quanto estão fazendo suas denúncias os delatores
são como aqueles tipos que participam do BBB: quando são expulsos do programa –
leia-se das suas conjuras de roubo e tramoia – querem fama a todo custo, ou
seja: querem ser ouvidos, contar o que viveram, debulhar as podruras dos que
ficaram.
Querem lavar as mãos,
mesmo que o corpo continue atolado na lama.
E assim fazem os BBBs da Lava Jato: querem falar e
são premiados com sentença benévola – a delação é premiada, lembra?
E ganham nas manchetes a condição de aliados da
honradez – é honradez de última hora, claro. É de última hora mas vale; pronto.
No Brasil, você queria o quê?
Quem sabe logo logo haverá os ex-deladores, o
equivalente político dos ex-BBBs: poderão escrever livros, virar celebridades
arrependidas; quem sabe, inspirar um filme com cenas picantes.
A questão é que estamos numa quarta-feira da História
e temos cinzas. Começo a temer que nem somos um país. De qualquer maneira lá
vem o Brasil descendo a ladeira.
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