O repórter-fotográfico João Maria Alves, um dos olhares mais
experientes e talentosos desta Natal tão nossa, promove a partir do dia 5 de
abril, a partir das 19h, a exposição Vivo Sertão, na galeria Margem Hub de
Fotografia, à Rua Amaro Mesquita, Lagoa Nova. Como apresentação da mostra
preparei o seguinte texto:
Grande sertão: belezas
Emanoel Barreto – repórter
A pressão do jornalismo diário forjou no olhar do
repórter-fotográfico João Maria Alves a percepção do momento preciso, instante
exato do disparo da máquina que transforma em imagem a cena de vida; ação e
pulsação, brutalidade e grandeza, gesto imprevisto e foto imediata – todo jornalismo
é ofegante.
É isso, essa pressa sem parar que define os grandes
fotógrafos: a precisão da foto, a transformação do fato em texto de imagem, o
teatro do mundo como tragédia e manchete. Com suas lentes João Maria faz isso –
como poucos.
Conheci João nos idos dos anos 1970 e continuamos a trabalhar
juntos na Tribuna do Norte ao longo de boa parte da década seguinte: muito
tempo. Muitas matérias de rua, acontecimentos em ação, assaltos e mortes – a dor
do povo nas filas, ônibus lotados, hospitais sofrendo, favelas e gritos;
políticos anunciando eras magistrais, obras grandiosas, gente feliz. João
registrando tudo.
É que o fotógrafo tem a compulsão do tempo. Ninguém sabe
quantos instantes tem um momento, quantos segundos tem um lapso, quantos átimos
há num minuto. Mas o fotógrafo sim. Ou sabe disso instintivamente ou não será
nada. Ele é dessa estirpe. Captura a alma do fato. Fotógrafo pé quente.
Suas fotos são documentos. Dados e passados no cartório do
Tempo.
A exposição que ora realiza traz um João Maria na fase da
maturidade pessoal e profissional. Trata-se de trabalho que só consigo definir
como magnífico. Seja pelos enquadramentos, expressividade das cores, textura e
oportunidade do disparo, ou pelo fato de que nos traz o sertão em forma de
beleza. Um sertão reluzente de alguma ternura, mas sem perder a dureza jamais.
João Maria conseguiu dar à paisagem – e à presença humana
subjacente – um dado de pujança e força. Somos atraídos às fotos como se
estivéssemos atravessando um portal, descobrindo um grande sertão agreste e
belo. O sertão parado em seu tempo; sertão como entidade, o homem como vivente
enraizado na bruteza do chão.
Não é fácil transformar paisagem em flagrante. Para fazer isso
é preciso ser aliado do tempo, saber dos tais instantes e momentos fotográficos
– eles são o precioso tempo que os relógios não marcam. João soube fazer isso
muito bem, trazendo à tona a essência da paisagem; ele transformou a paisagem em
fato e o que está parado em acontecimento. Trabalhou com a luz, captou o
silêncio poderoso das sombras. É exímio colorista. Nada mais jornalístico que isso.
Esta exposição é também um registro de vida, os passos na
estrada de um grande profissional. Vida, esforço, presença, dedicação e
talento. Abraço grande, amigo. Que venham novos momentos.
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