Que tal esperar o jogo?
Tenho notado que nessa espera pelo
jogo entre Brasil e Alemanha vivemos terrível pessimismo militante. Um amargor
encravado na boca, pesaroso rancor de nós mesmos. E, enquanto seu lobo não vem,
sorvemos a acidez de algo que ainda não se deu – a derrota – nem há certeza de
que acontecerá. Ao que parece é como se a Seleção fosse composta por um magote
de inúteis prestes a deambular ao sabor dos passes dos alemães.
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Seleção brasileira: vitória afirmou nosso futebol perante o mundo |
Pensando bem, não é assim. Não é
exatamente assim. Não é nem um pouco assim. Sei que a Seleção não é a mesma dos
meus tempos de menino, quando acompanhava pelos ruídos da Rádio Poti a retransmissão
do fantástico desempenho dos comandados de Feola, em 1958, Brasil campeão do
mundo. Era um domingo, dia 29 de junho e o tempo estava nublado em Natal.
Eu nem sabia que existia a Copa
e somente tomei conhecimento da disputa quando o rádio foi ligado. A partir daquele
momento, com as atenções penduradas no rádio, minha cabeça quedou distanciada dos
meus jogos infantis. E encantado fiquei até o final do jogo.
Mas eu dizia que a Seleção não é
aquela. As coisas mudaram – as coisas sempre mudam – os outros times parecem
ter aprendido alguma coisa, uma alguma
coisa que parecia ser privativa de nós, brasileiros; nós, os amalandrados;
nós, os vira-latas cheios de arranque; nós, os bêbados equilibristas, que
contra todas as impossibilidades nos tornamos possíveis.
Nos estádios, nas
ruas, nas filas, favelas. A Seleção é um pedaço de povo, pode crer.
Insisto: talvez eles, os povos bem nascidos, tenham aprendido
aquela alguma coisa, algum tipo de fagulha, mas com certeza não dominam algo que os vira-latas sabem
muito bem: eles não sabem im-pro-vi-sar. Foi improvisando que esse povo chegou
até aqui. Vamos ver se dá certo contra os alemães. Será que o impossível é
mesmo impossível? Quem disse que é impossível?
Vamos ver o que acontece. Vejamos
qual a manha a ser jogada, o drible a ser convocado, o gol a ser convidado. Se não der certo terá valido a intenção. Mas,
que tal esperar o jogo?
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Foto: http://veja.abril.com.br/historia/copa-1958/brasil-campeao-do-mundo.shtml
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